terça-feira, 17 de julho de 2007

Samora Moises Machel aos olhos da geracao pos 1986

QUEM FOI SAMORA PARA GERAÇÃO PÓS –SAMORA (1986-2006)




Antes mesmo de desenvolver as questões relativas a esta grande figura da história Moçambicana, quería explicar que o faço em nome de uma geração da qual me encontro incluso, que vezes sem conta a sociedade pergunta-se se tem domínio da nossa história, uma geração apelidade de alienada entre outros adjectivos. Espero sinceramente que este texto possa constituir o início de um grande debate, a volta do legado que os mais velhos deixam ou deixaram as gerações vindouras sobre a história do país.

No transacto ano de 2006, coincidiu com a comemoração dos 20 anos da tragédia de Mbuzine, e por sinal num ano em que diversas actividades coloriram a comemoração desta data e que criaram uma sensação de um “despertar” geral para uma análise profunda da vida e obra de Samora, talvez por isso este ano as comemorações tenham sido bastante efusivas.

Queria desde já esclarecer que tomei a coragem de escrever este texto a respeito da vida e obra de Samora, tendo como suporte de pesquisa cassetes aúdio e vídeos com discursos de Samora, depoimentos de camaradas de samora, poucas coisas que alguns familiares seus me deram a conhecer, escritos de samora e sobre Samora, conversas daqueles que ouviram Samora falar naqueles seus discursos demorados, daqueles que viveram o período samoriano e também do pouco que a minha querida mãe contava sobre Samora e sobretudo porque quando analiso o contexto económico, histórico e político social em que actualmente vivemos chego modestamente a pensar que entendo melhor Samora do que algumas pessoas que com ele privaram. Sinceramente pode até ser uma blasfemia mas já disse e não voltarei atrás.

Com o presente texto não pretendemos de maneira alguma julgar SAMORA, como se predispõe fazê-lo um conceituado estudioso nacional, numa de suas obras que diz estar a tentar escrever, nem mesmo compará-lo a este ou aquele dirigente mas sim quero dar a conhecer ao povo moçambicano o que a geração pós-samora sabe ou pensa que sabe a respeito da vida e obra deste filho querido de Moçambique, como também esperamos mostrar aos mais velhos que estamos preocupados em conhecer a nossa história e acima de tudo deixar uma certeza clara de que que o legado histórico que nos passam será transmitido a gerações vindouras.


Gostaria de começar esta minha abordagem, de uma forma não muito habitual, das conclusões a introdução, isto é, com o desenrolar da introdução estariamos apresentar argumentos para sustentar as conclusões. Sei que os mais conservadores dirão é próprio da tua geração, a estes direi o tempo traz as suas inovações quer queiramos quer não, no mínimo devemos saber compreende-las.
Cheguei a conclusão de que muitos SAMORAS existirão, samora pai, samora filho, samora amigo, colega, samora camarada, samora Presidente, samora indivíduo ou melhor homem comum e possivelmente outros e o mais interessante é que cada um deles de forma isolada carece de uma minuciosa análise pois carrega consigo uma grande bagagem de história. Depois de analisar todos estes Samoras, cheguei a conclusão de que para a presente abordagem poderia concentrar-me em dois que acabariam por fazer uma melhor representação dos restantes, para tal foram identificados SAMORA Presidente e Samora homem comum.

Na minha análise, o grande erro mas grande erro de Samora que por vezes fico confuso a pensar que o erro não tenha sido seu é pelo facto de SAMORA homem comum com as suas virtudes e fragilidades individuais, com a sua personalidade forte terem semeado pânico, medo, é medo junto dos camaradas directos o que fazia com que as decisões do outro, este já o PRESIDENTE SAMORA os camaradas não o contrariassem veementemente até mesmo quando fosse necessário e sobretudo penso que este pânico contribuiu para que grande parte dos dirigentes a sua volta não o compreendessem.


Apresentadas as minhas conclusões vou tentar sustentá-las, não só com argumentos de análise que tanto podem ou não ser concessuais, mas também sustentá-las-ei através de exemplos claros que ninguém poderá os negar.

Exemplo do medo, pânico que existia é que alguns círculos de individualidades que eram próximas a Samora, só hoje dizem que em determinado aspecto, com determinada política não estavam de acordo.
A consequência do medo que Samora criava junto dos seus camaradas é que hoje se forem muito atentos toda e qualquer culpa dos erros daquele momento histórico de Moçambique, Presidente Samora não partilha com ninguém, recaí tudo mas tudo sobre a figura isolada deste homem deixando nos com uma meia percepção de que o bloco forte que tomava as decisões centrais, isto é, o bureau político era ofuscado pela visão do líder.

O medo que os seus colaboradores tinham do líder contribuiu negativamente para que o Presidente SAMORA tivesse uma assessoria que merecia. Um outro aspecto que nos ajuda a explicar esta situação são os casos de assinatura de despachos de soltura na rua, de tomar algumas decisões de Estado assinando papéis nas costas de seus guarda costas, atitudes que são explicados pelas suas qualidades individuais homem justo, homem queria apreçar-se em resolver os problemas de todos. O problema é que decisões tomadas nestas circunstâncias são passíveis de incorrer em erro como se verificou nalgumas vezes. Mas o que nos parece é não ter existido ninguém que alertou ao camarada Presidente sobre os riscos destas atitudes, uma alerta de uma forma bastante firme para que actos desta natureza não voltassem a ser repetidos.

Reza a história que o Presidente Samora num daqueles seus discursos com o povo num dos distritos da província de Maputo, foi abordado pela população que o sugeriu no sentido de se sentar para negociar com a RENAMO para o alcance da paz na medida em que a guerra ia ceifando muitas, mas muitas vítimas. O presidente respondera categóricamente que quando se corta o cabelo vai nascer outro para fazer alusão as perdas humanas que iam sendo feitas pela guerra iriam ser substituidas por novas vidas, um pronunciamento que feríu a população sobretudo aos que tinham perdido entequeridos e tinham a certeza que nenhuma vida substituiria as vítimas perdidas. Na explicação de alguns sociólogos o Presidente agira na qualidade de comandante em chefe das forças armadas na medida em que não podia ter um discurso desanimador pois afectaria sobremaneira as Forças Populares de Libertação de Moçambique e contribuiria para fortificação psicológica das forças inimigas.

Mesmo respeitando a análise feita pelos sociólogos, e outros analistas que tenham enunciado teorias para explicar este pronunciamento do saudoso presidente, na minha modesta visão penso que terá sido uma declaração infeliz, que podería dar lugar a uma incursão de conselheiros, colegas do bereau político a fim de consolar as populações, explicar que o mal entendido, como aconteceu a dias com o PAPA Bento XVI, a respeito das suas declarações sobre o profeta Máome, que não foram bem entendidas no mundo islâmico, o que semeou um clima de “mal estar intra-religioso”. Imediatamente os conselheiros do PAPA, os diplomatas do Vaticano deram início a um périplo pelos países islâmicos para esclarecer o “mal entendido”, e o próprio PAPA não tardou em arranjar meios de se explicar e de se desculpar o que permitiu a normalização das relações intra-religiosas, infelizmente com o Presidente Samora as coisas não foram conduzidas de forma parecidanão muito menos igual.

Samora não foi compreendido até por alguns dos seus companheiros, quando o Estado viu-se despido dos recursos humanos que davam vida as maquinarias, as indústrias, as fábricas e empresas, o presidente Samora teve a coragem de parar o ciclo de formação de muitos jovens para que estes dirigissem esses sectores, os galvanizassem e esta geração ficou apelidada de 8 de Março. Esta geração que eu considero que foi e é sem dúvida a mais privilegiada da história recente de Moçambique independente. Hoje esta geração é composta de quadros que acumulam 3 a 4 postos de trabalho e no meu ver esta geração sem ter compreendido realmente Samora continuará directa ou indirectamente a tomar conta dos destinos deste país por ainda muitos anos. A este facto me justifico pelo que SAMORA sempre deixou bem claro que a Educação é arma para construirmos a nação, e hoje é possível ver uma geração que se muniu de conhecimentos até aos mais altos graus de formação, mas quando pede espaço para contribuir no desenvolvimento nacional através dos conhecimentos adquiridos ao longo da formação para é impedida em nome de uma série de condicionalismos como são os casos de 5 a 6 anos de experiência.

Samora que valorizava o cidadão Moçambicano, entregou os destinos da nação a esta geração não porque a noção de experiência lhe fugia da memória, precisamente porque naquele contexto aqueles eram os que em melhores condições se encontravam para levar a bom porto os desígnios da nação. Dirão fundamentalmente os abrangidos pelas benesses que os contextos são outros, aceito, que estamos a emendar os erros do passado aí negarei que pois está demasiado claro que o Know How que esta geração de desempregados possuí está sendo desaproveitada, aumentado a privação relativa na sociedade Moçambicana em nome de acúmulos de cargos bem como de empregos por clã de famílias ou grau de simpatia que a meu ver são contrários ao espírito que abriu caminho para que chegassem onde se encontram hoje, e essa distribuição tem sido premiada com a ineficácia das instituições do Estado. Penso ser de bom tom explicar que não exigimos que os experientes deixem os 3 ou 4 empregos para os formados, especialistas para os experts mas pedimos que lembrem do princípio do papá Samora, de que a Educação é a arma para construção da nação e se conseguirem, espero não estar a pedir muito, mas se reduzissem os vossos apetites para 2 postos de trabalho, abriria-se uma luz para empregar grande parte dos jovens que se formam e não tem emprego sendo que mais famílias poderiam melhorar por via de seus filhos, suas condições de vida o que me parece uma estratégia viável para o combate a pobreza absoluta.

Porque o texto pretende fazer um estudo da vida e obra de Samora vamos aproveitar alguns assuntos que sempre foram alvos de alguma discussão e apresentar o nossa visão a volta deles. Alguns tentando imaginar o impossível, dizem nos que se SAMORA fosse vivo isto sería igual a CUBA, outros ainda estaríamos em guerra porque ele nunca se imaginara a sentar-se com a Renamo para alcançar a paz, com todos estes discordo completamente e passo a apresentar as minhas razões:

1. Samora que combateu energicamente contra os Portugueses, a quem os chamava de colonialistas e imperialistas, quando o momento histórico assim o permitiu foi a Portugal entrelaçou as relações do governo de Portugal e de Moçambique em nome dos dois povos e semeou uma nova imagem junto dos Portugueses não só da sua pessoa como também do povo Moçambicano no geral.
2. Para Samora o apartheid era o regime que semeava instabilidade dentro da região, que obstaculizava o desenvolvimento dos povos da região e era preciso combatêlo “ enquanto eles tentam atacar Maputo, nós e os Sul Africanos somos 35 mil tomaremos Pretória”, só que quando a sobrevivência do Estado Moçambicano estava sendo posta em causa, para o espanto, admiração e perturbação de muitos assinou com o seu maior inimigo o “acordo de Nkomati”.
3. Samora recebeu apoios para luta de libertação nacional de vários países mas sobretudo dos regimes Socialitas da URSS e da China numa altura que havia entre estes um clima cerrado, mais importante ainda é o facto de que quando a crise económica apertou o país, deixando nos sem alternativas, Samora teve a coragem o suficiente de visitar Margaret Tatcher e Ronald Reagan símbolos máximos do capitalismo nesta época, marcar a viragem de orientação da Política Externa Moçambicana que mais tarde veio a ser premiada com a entrada de Moçambique nas instituições multilaterais internacionais o que relançou a economia nacional..
4. Samora defensor de um Estado de direcção centralizada em 1975, era um líder dinâmico, quando a economia centralizada mostrava-se ineficiente começou ajustá-la a nova realidade e defendeu que não era função do Estado vender alfinetes e agulhas, e foi a partir desta evolução que chegamos hoje a economia de mercado.
5 Sem dúvida Samora sabia que o elefante branco do Zambeze (HCB) era um grande potencial para o desenvolvimento económico nacional, mas porque poderia complicar as negociações de Paz com Portugal, bem como minar as relações de Moçambique com determinados países que começavam a ser estratégicos para Moçambique Samora aceitou abdicar deste empreendimento no seu plano de nacionalizações.

Estas posições entre outras que não foram aqui mencionadas, fazem me crer que Samora não era um líder de posições estáticas, misturava este aspecto com o saber ajustar-se as dinâmicas do momento e em função destes argumentos posso garantir que se a situação indicasse que a única via para a paz era sentar-se com a Renamo, Samora sentaria como o fez com os seus inimigos em outras circunstâncias. De maneira alguma se pode comparar Samora com o liderança Cubana, a qual não ponho em causa, pelo contrário respeito e admiro bastante, mas penso ter tentado mostrar acima que Samora iniciou com um processo que culminou com liberalismo e uma série de modus operandi ue não aconteceram na ilha não é, mas de todo modo as minhas análises me indicam que com Samora este liberalismo selvagem, descontrolado, onde o Estado Moçambicano não tem forças para freá-lo não se poderia pensar.

Quando se olha para adesão de Moçambique as instituições de Bretton Woods ou genericamente uma inclinação ao Ocidente penso que não pode ser vista em como não aconteceu a seguir a independência pelo facto de ter sido o Presidente Samora no poder pois a uma míriade de factores que estariam a volta desta decisão tais são, o contexto histórico, a situação internacional e principalmente o interesse desse grupo de Estados em incluir Moçambique no sua lista de parceiro, que devem merecer uma particular atenção.

Quando Moçambique procurou apoios para lutar pela independência, teve apoios explícitos por parte da URSS e do bloco do leste o que contribuiu significativamente para que este desejo fosse alcançado e a história entrelaçou a cooperação entre Moçambique e a Rússia o que determinou também que a orientação de Moçambique no pós independência tivesse uma queda para o leste em detrimento do Ocidente.

Com relação a situação internacional não se pode esquecer que Moçambique alcança a independência, num contexto em que os países do III mundo na África e Ásia e América Latina que tiveram o mesmo passado colonial viam no Socialismo a melhor linha para responder aos anseios de autodeterminação e os Ocidentais eram vistos como o espelho da subjugação colonial, como forças opressoras.

Olhando para o interesse do Ocidente em receber Moçambique como parceiro fica extremamente complicado enunciar uma posição fechada, mas continuo pensado que o facto de os regimes colonizadores terem sido maioritariamente ocidentais e os apoios a descolonização terem vindo do leste, acredito que isto tenha criado uma situação que aliada ao contexto de guerra fria, regimes como os de Moçambique fossem rotulados como não bem vindos aos olhos do Ocidente e pelo contrário eram regimes que deveriam ser combatidos.

A pesar de reconhecer que o Presidente Samora tinha bebido bastante do socialismo penso que não terá sido o seu pulso que determinou a não inclinação ao Ocidente pois se as forças internacionais influenciassem para que tal decisão fosse tomada, o país não teria outra alternativa como se verificou no início dos anos 80.
Chegado a este estágio, em que pela maneira que o artigo foi escrito, começando pela conclusão, passando a sustenta-la através da introdução, encontro-me perdido e começo a concordar com aqueles que nos tem definido como uma geração confusa. Só que de seguida lembro me da vida e obra de SAMORA, homem multi-identitário, homem que sabia se impor nos desafios de momento e digo, homem que não se deixava perder e chego a conclusão de que não somos confusos, simplesmente temos coragem para quebrar tabus, fazer as coisas de forma diferente.
É bom que se diga que esta não é uma tentativa de desculpabilizar SAMORA pelos seus erros, mesmo porquê eles foram aqui destacados mas é sobretudo um esforço de fazer lembrar que SAMORA conduziu os destinos de Moçambique dentro de uma linha de orientação ao lado de seus camaradas, daí ser a meu ver importante partilhar os desagrados desse momento histórico com eles.

Se é bem verdade que enquanto homem Samora tinha uma personalidade forte, que não facilitava a que ninguém tivesse a coragem de chamá-lo atenção, contrariá-lo, já enquanto Presidente fica claro que existiam regulamentos e instituições que podiam ser usados para explicar, para contradizer, para aconselhar o presidente quando fosse necessário e que se os camaradas não o fizeram não é de todo correcto se explicarem pelo facto de ter sido o problema do medo.

Finalmente pedir para que os homens clarividentes que com Samora e depois dele conduziram Moçambique para que revejam algumas coisas, pois parece-me existir uma bíblia que nos conduziria ao futuro melhor que deve estar algures esquecida, procurem-na, achem-na Moçambique precisa dela. Este artigo é uma demonstração do que é que estamos a beber da história de Moçambique se estiver muito a quem da expectativa é hora de se arregaçar as mangas e inverter o gráfico.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente com o seu ponto de vista, Samora é o presidente do Povo sempre quis a Paz e o bem estar do todo Moçambicano. Pena foi traido pela cambada dos intelectuais e egoistas que nem estiveram no mato, promoveram a sabotagem do Governo assessorando mal o lider pra verem a sua queda e como ele era firme acabaram matando-o para concretizarem os seus intentos e hoje são donos de tudo e de todos; matam quem acham que é pedra no sapato; promovem o auto empreendedorismo sem recursos para os visados; e dizem que ficaram ricos com a criação de patos.

    Estes merecem distino pior ao que machel teve .A justiça um dia sera feita o Povo não dorme mas sim ta de olho.

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  2. O importante é que estamos firmes nós seguidores dos seus ideais.
    por isso " SE SAMORA ESTIVESSE VIVO..."

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  3. Gostei do que vi e li... Samora Machel um Homem uma Causa... De facto embora samora se identificasse com o socilismo (Karl Marx e Lenine) se o ocidente naquele contexto histórico não fosse hipócreta, como é típico, teria samora adoptado a economia de mercado, mas não teve alternativas, poie o país precisava de sobreviver e dalguma forma tinha que adoptar parcerias, essas que vieram da cooperação militar-econòmico daqueles países de orientação socialista que considerava moçambique como um estado e não como um bando de bandidos, ao contrário do ocidente... eh pa... a história vem de longe. continue escrevendo... agurado novas. um abraço

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