segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O recrudescimento do indice de criminalidade em Mocambique

A CRIMINALIDADE EM MOÇAMBIQUE


Nos últimos anos, e particularmente nos últimos meses no país em geral e com mais destaque para a cidade e província de Maputo, o crime tem atingindo proporções alarmantes, e dimensões hediondas. No passado, os crimes mais regulares neste país eram os de furto de pequena escala cometidos regra geral no período de noite (roubo de galinhas, brincos, celulares, assaltos a casas, etc,), mas em lugar desses factos, sentimos nos últimos tempos uma evolução na tipificação do crime para execução de pessoas, violações de menores, trafico de pessoas, vendas de órgãos, assaltos a mão armada de viaturas, residências, bancos, instituições públicas e privadas, etc, chegando os meliantes a matar para lograr os seus intentos, sendo mais triste ainda neste episódio, é o facto dos criminosos se darem ao luxo de abater agentes da lei e ordem, os nossos defensores públicos, acções estas em que os criminosos as executam em pleno luz do dia.

Chamado a comentar o crime por diversos órgãos de comunicação social, sempre arranjei desculpas para não aceitar, temendo represálias, pois sentia que os criminosos estavam mesmo a solta, visto que se abatiam polícias armados, a mim um jovem indefeso, eram capazes de fazer comigo coisas que a própria imaginação desconhece. Mas também me lembrei que ao me isentar deste debate enquanto cidadão, estaria a aceitar que os criminosos substituíssem o poder regular, e instalassem um governo paralelo, que se baseia no pânico, no medo, e na desordem, daí resolvi escrever este artigo, para o qual me proponho a estudar algumas causas mais profundas do crime, isto e, a partir da sociedade e do Estado para percebemos porquê, o crime tem recrudescido em quantidade e qualidade.

A minha base de análise, poderia ser o aumento de recursos aos polícias, infiltração no seio da corporação, mudança de cores dos fardamentos dos agentes da lei e ordem, entre outras teorias que têm sido desenvolvidas, as quais respeito, mas porque para mim a criminalidade é um problema de referências, isto é, o que é que um criminoso representa para sociedade, ou seja como o jovem correcto, estudioso, desempregado é acolhido por esta mesma sociedade e o que é que o Estado tem feito para inverter esse gráfico, decidi concentrar o estudo da criminalidade neste contexto.

O crime em Moçambique é largamente cometido por adolescentes e jovens, o que e geralmente comum em muitas sociedades, na medida em que nestas faixas etárias ambição é desmedida e para tal os esforços para alimentar as suas vontades mostrar-se insuficiente sendo que daí recorrerem com grande frequência as actividades de lucro fácil. Num Estado com um elevado índice de pobreza absoluta como o nosso, este cenário explica cada vez melhor a situação do crime, uma vez que os jovens encontram-se maioritariamente no desemprego, sem meios e recursos para ter acesso as mínimas necessidades básicas, dai seguirem a via do crime.

Penso ser neste ponto onde reside a parte chave do problema, na medida em que o criminoso é membro de uma família, de um bairro, de uma região da nossa sociedade, mas porque não é denunciado, porque muitas famílias encontram a solução dos seus problemas básicos através dos rendimentos criminais, porque pais conseguem levar seus filhos a escola com dinheiro sujo, porque o crime está sendo propagandeado como uma via mais séria para obter a riqueza, a tomar pelo exemplo dos grandes tubarões como se diz nos relatórios do PGR que nunca são capturados.

Queria convidar os leitores para uma análise que poderá contribuir para melhor explicar a nossa base de analise sobre a razão do crime em Moçambique, se bem que e uma comparação um pouco lamentável, mas claramente condicente com a realidade moçambicana. Entre um jovem formado, universitário, empreendedor, com alto sentido de patriotismo, mas no desempregado, sem nenhum tostão para o lazer, e um outro jovem, ladrão, proprietário de um BMW ou o tal Mercedes classe C, tanto falado naquele julgamento, com uma conta bancária que sustentaria os caprichos de qualquer ambicioso, qual destes estava em condições de granjear admiração de uma jovem mesmo oriunda das famílias mais nobres, dentre estes dois, para qual deles a sociedade tem tirado o chapéu, vangloriado, tem aplaudido? Mesmo sabendo que doutor e que e o legitimo doutor, a sociedade insiste em chamar ao ladrão de doutor, tudo isto num claro sinal de que, o poderio económico, mesmo quando resulta de vias pouco abonatórias,para ser mais preciso do crime, é ainda assim determinante para granjear respeito, admiração e muitas outras coisas, na sociedade moçambicana.

Penso que se a família, a sociedade, não repudiar o crime, não denunciar os criminosos, não mostrar que a riqueza que provém da falcatrua, do roubo, não é duradoira e deve ser combatida, se o Estado não se esforçar em proporcionar emprego para os jovens, se as agencias de crédito não abrirem as portas para dar credito aos empreendimentos juvenis, a situação do crime vai crescer cada vez mais. Porque já tinha dito coisa similar numa entrevista num órgão de informação, queria terminar aproveitando a oportunidade para dizer que algo deve ser feito no capítulo do desemprego e mais concretamente nas politicas de apoio a juventude, quer seja ao nível do acesso a credito para habitação, etc, porque o efeito spill over da integração está quase a porta, daí que começa-se a sentir que os criminosos da região vão fazendo um network de mecanismos de actuação, vão trocar experiências, as frustrações dos jovens vão sendo convergidas, sem dúvidas que o nível do crime ainda vai conhecer dias piores, desta forma pensamos ser urgente resolver os problemas da juventude.