segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cultura de Trabalho

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dr.Noa Inácio

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“ Cultura de Trabalho”: (Des) Envolvimento e Desafios da Produção de Riqueza em

Moçambique


Em virtude de ter recebido um Convite do Gabinete de Estudos da Presidência da República, para participar no dia 28 de Junho de 2007, em mais um debate organizado por este gabinete, desta feita alusivo ao tema acima indicado, pela premência do assunto vi me obrigado a produzir este paper como melhor forma contribuir para o trabalho do Gabinete de Estudos.

O presente paper será feito tendo como suporte em grande escala uma análise da realidade empírica da sociedade moçambicana. Para debruçar a respeito do tema preferi discuti-lo numa primeira abordagem exclusivamente como cultura de trabalho e numa segunda olhando para o desafio de produzir riqueza. O assunto será aqui desenvolvido consciente de que não abarcaremos todos os elementos a sua volta mas sim com um esforço de aglutinar as melhores explicações em relação aos elementos que chamamos para fazer uma ligação com o tema em questão.

Antes mesmo de entrar no cerne da questão, gostava de iniciar dizendo que a cultura de trabalho, isto é, gostar de produzir, edificar, construir e criar é característico do povo Moçambicano. Mas a meu ver os esforços de produção de riqueza, evidenciados ao longo da nossa jovem história, não foram muitas vezes os mais aconselháveis e tiveram um contributo assinalável para diluir no seio da sociedade, a cultura de trabalho visto como um mecanismo mais adequado de produção de riqueza em Moçambique.


A busca de riqueza deveria ser a meu ver uma das atividades que mais deveria servir para incutir na sociedade o espírito e a cultura de trabalho, mas o que está acontecer é que em grande escala pode se ver impunemente jovens, adultos e velhos adquirirem cada vez mais riqueza através de meios ilícitos o que acaba sendo um golpe duro para a moralização de todos ao trabalho e fundamentalmente na exemplificação dos mais novos sobre o valor do trabalho.

O excessivo nível de desemprego, faz com que na procura de emprego os cidadãos não procurem empregar-se em sectores de sua formação académica específica, e nem mesmo em áreas em que tenham gosto de desenvolvê-las o que acaba fazendo com que a cultura de trabalho seja minada pois as pessoas não oferecem o seu máximo no desenvolvimento das suas actividades.

Uma das constatações a que o tema me impingiu olhando a primeira vista é que o país tornou-se demasiado politizado, isto é, as idéias das pessoas, os esforços de inovar, de trabalhar mais e melhor só foi apreciado, valorizado e condecorado em casos em que os mentores tivessem ligações políticas neste caso com o partido FRELIMO. O perigo disto é que grande parte dos grandes trabalhadores, bons trabalhadores que não tinham ligações político-partidárias acabaram não merecendo o devido prestígio, apoio quando necessário e nem crescimento profissional, o que acabou em muitos casos fazendo com que os trabalhadores perdessem o ânimo, e a frustração se instalasse nas suas vidas fazendo com que o desempenho das firmas e de seus funcionários, deixa-se muito a desejar.

Em relação a constatação acima feita é importante sublinhar que apesar de que aproximadamente 85% da população moçambicana segundo rezam as estatísticas dedicarem-se a prática da agricultura, o Estado, a função pública é um dos maiores empregadores. Desta forma enquanto o trabalho neste sector estiver refém as ligações político-partidárias o que acontecerá é que o trabalho nunca será valorizado em detrimento de cartões de partidos o que contribuirá para inoperância das instituições públicas, para a desmotivação da classe trabalhadora que é vital, central ou seja nevrálgica para o desenvolvimento de todas actividades que possam gerar riqueza no país.

Este problema das ligações político-partidárias, não enferma só a função pública como também as empresas privadas e agências da sociedade civil dado que grande parte destas empresas para o seu enraizamento no país é sempre sugerido uma ligação partidária e as agencias da sociedade civil com fortes ligações políticas acabam tendo mais visibilidade quer por impatia da classe governativa, quer mesmo pela força dos seus membros enquanto membros também do partido que governa o país.

Importa sublinhar que não vejo a ligação político-partidária tanto de funcionários públicos, bem como de agentes privados e agencias da sociedade civil como um foco de desmotivação a cultura de trabalho, mas sim, a avaliação desse trabalho nesses diferentes ramos tendo em conta as ligações político partidárias é que acabam sendo pouco abonatórias para o incentivo para o espírito de trabalho e de cultura de trabalho.

Quando falamos em envolvimento e desafio da produção de riqueza em Moçambique não podemos deixar de lado diferentes realidades culturais que caracterizam o povo moçambicano tais como o pensamento de que a pobreza é algo directamente ligado a raça negra noutros casos é um castigo divino que em todos os casos acabam sendo de forma errónea concluídos como inultrapassáveis. A primeira idéia que me advém quando procuro discutir os “desafios da produção da riqueza em Moçambique”, penso que ela passa sem dúvidas pelo reforço do investimento no sector da Educação mesmo para acabar com as conclusões erróneas citadas acima, próprias de um povo com um elevado grau de analfabetismo e fundamentalmente para permitir que diferentes técnicas de metodologias de desenvolver as actividades possam estar ao domínio da sociedade moçambicana nesta altura que é consensual ao nível de globo que o domínio da ciência e da tecnologia são uma via mais fácil e adequada para aquisição de riqueza.

Em relação a produção da riqueza penso ser possível deixar uma idéia clara e que poderia ser seguida desde que haja vontade ainda que política. Mediante um concurso em que participei denominado “Jovem Empreendedor” pude constatar que existem diversas ideias, projectos inéditos para o desenvolvimento da riqueza para o país neste caso conhecidos mas existem muitas outras no anonimato mas em todos os casos os proponentes não têm financiamento para viabilizar os projectos, e essas iniciativas nunca passam do papel. Em relação a isso penso que está na hora da dívida externa para além de ser contraída unilateralmente para o sector público ela poderia também passar a ser contraída para apoio a investimentos privados o que poderia aumentar o volume de investimentos nacionais e de produção da riqueza.

Para fechar a reflexão sobre a Cultura de trabalho- envolvimento e desafios da produção de riqueza em Moçambique, penso que é importante continuar a investir na educação, mas também ter em conta a valorização das iniciativas individuais singulares, isto é, valorizar e apoiar o trabalho do camponês até o grande empresário independentemente das suas filiações político-partidárias, religiosas, rácicas ou de outra índole.

Antes de terminar a abordagem que me propus, penso ser interessante parabenizar a todos os envolvidos, o governo, a sociedade civil, os políticos, os académicos e todas as forças da sociedade nesta iniciativa ainda que incipiente de ouvirem-se mutuamente e de estarem a tentar respeitar as diferentes idéias de cada grupo sobre os mais diversos assuntos e neste caso particular o meu Kulungwane vai para o Gabinete de Estudos da Presidência que sabiamente tem promovidos grandes debates de interesse nacional.

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