quarta-feira, 19 de agosto de 2009

AS EPOPEIAS REVOLUCIONÁRIAS DE ARMANDO GUEBUZA

Hoje assumimos a liderança dos destinos do Povo Moçambicano para, nos próximos cinco anos, passo a passo materializarmos o seu sonho.Trata-se de um sonho distante mas realizável. Sabemos o que queremos e sabemos como realizar esse sonho. Para nós, a promoção do bem estar não tem limite e, por isso, o nosso combate contra a pobreza também não deve ter tréguasArmando Emilio Guebuza in Discurso de Tomada de Posse a 2 de Fevereiro de 2005.>


O Presidente Armando Emilio Guebuza, termina no presente ano o seu primeiro mandato em frente dos destinos da nossa bela pátria, da nossa pátria amada. E nesta fase vários sectores e segmentos da sociedade moçambicana, tem prestado as mais disparas teses académicas, sociais, políticas, económicas e até pessoais para fazer a avaliação aos resultados alcançados na governação de Guebuza.

Não escrevo necessariamente para me aliar a este processo de avaliação, escrevo sim, porque fui das pessoas entusiasmadas pela grande cariz revolucionário com que Guebuza pretendeu deixar como registo da sua governação, uma verdadeira iniciativa revolucionária, muito necessária, e ha muito desejada, da qual o povo estava muito sedente. Mas ao mesmo tempo, a olhar para o estágio em que a sociedade moçambicana se encontrava, mostrava-se ser uma iniciativa bastante utópica, própria das grandes revoluções, que deveria carecer de um engajamento acima do habitual para que a Revolução Triunfasse.

E porque fui entusiasmado por este processo sinto que é hora de deixar passar a minha percepção depois de passados os 5 anos de governação, e para dar clareza e direcção as minhas análises vou apenas concentrar-me nos ideiais políticos de Guebuza o que me permite sem dúvida um campo um pouco mais abragente de reflexão afim de entender se foi alcançado ou não o ideal utópico.

A escolha do elemento de análise deveu-se exactamente porque a governação revolucionária de Guebuza, envolve, várias e múltiplas facetas, e a meu ver tenderia a desvirtuar-me do central caso tentasse levar a cabo uma análise muito ampla, pois estou bastante convencido de quer quem quisesse aglutinar todos os aspectos da análise da governação ou melhor do processo Revolucionário sem dúvida acabaria sendo contraditório com o próprio raciocínio a olhar pelos resultados, métodos e a execução das políticas traçadas ao longo deste período.

O Processo Revolucionário desencadeado por Armando Emilio Guebuza teve como base numa leitura minunciosa dos verdadeiros obstáculos ao processo de desenvolvimento nacional, isto é, o burocratismo, a corrupção, o deixa-andar, a criminalidade, o sub-rendimento agrícola, o desemprego, a falta de infraestruturas, entre outras componentes que estavam alta e cruamente representadas nas áreas rurais, local que foi sabiamente escolhido como principal foco de atenção da sua governação, isto é, tomou “O distrito como pólo de desenvolvimento”.

Penso que esta base de sustentação tomada por Guebuza tornou-se bastante entusiástica e galvanizadora sobretudo por não ter sido algo de completamente novo, isto é, representa sim uma continuidade aos processos áureos de desenvolvimento iniciados no III Congresso da Frelimo em 1977 que pareciam ter sido esquecidos. É importante lembrar que estamos a falar de uma era em que foram lançadas as bases que mais tarde produziram uma das mais elevadas faixas de crescimento económico do Moçambique independente.

O regresso a alguns modelos e planos anteriormente definidos, acompanhado por um aperto cerrado ao crime introduzindo algumas unidades policiais como foram os casos da Brigada Anti-Crime (BAC) conduziu a que no início da sua governação vários quadrantes da sociedade fossem unânimes em apelidar o regime de Guebuza de um regresso a era Samoriana, uma era por sinal de excelentes resultados no processo de desenvolvimento nacional.

Como advinhava desde o início da epopeia, ficou provado que não seriam em apenas 5 anos que Guebuza triunfaria o seu processo revolucionário, pois tal como Samora e Chissano, tinha certeza que Gebuza tambérm teria os seus erros, os seus precalços neste processo bastante utópico e paradoxalmente bastante necessário. Ainda assim, pessoalmente registei alguns indicadores que me permitem fazer uma avaliação positiva dos resultados alcançados por Armando Emilio Guebuza no seu processo revolucionário.

O Combate a pobreza Absoluta

A maior marca da utopia revolucionária de Guebuza foi sem dúvida o seu engajamento em fazer perceber aos moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, que era possível erradicar a pobreza absoluta, que era necessário mobilizar meios, recursos, e criatividade para vencermos a pobreza, tendo o feito através da sublevação do discurso e acções de auto-estima, tentando combater a autoflagelação barata, tendo lançado a chama da unidade para envolver a coesão dos moçambicanos para o triunfo Revolucionário, tendo o feito, atacando severamente aos que não apresentavam propostas e nem alternativas aos programas apresentados, aos caluniadores, atacou duramente aqueles que tomaram como seu papel principal fazer referências aos fracassos tendo os apelidado de “apóstolos da desgraça” pois de nada serviam aos propósitos revolucionários, pelo contrário poderiam levar o povo a baixar os braços, a desistir, poderiam dar força, dar vitória a pobreza.

Distrito definido como Pólo de Desenvolvimento

Foi bem acertada a decisão de voltar a tornar o distrito como centro da acção política tendo para este efeito acompanhado aos distritos o Fundo de Iniciativas Locais, vulgarmente conhecidos por 7 biliões, que tem a função de criar iniciativas geradoras de rendimento e de lucro a nível local, proporcionando um aumento de fluxo monetário nos distritos e aumento do poder de compra.

Mas do que tornar os distritos pólos de desenvolvimento Guebuza iniciou um processo de “governação aberta e inclusiva” que tinha como base fundamental fazer chegar os seus desafios revolucionários a todos os moçambicanos por sinal que maioritariamente vivem em áreas rurais, naquilo a que o próprio apelidou de um canal diversificado de interação com os seus compatriotas. É preciso sublinhar que neste processo de governação é acompanhado por uma avaliação popular das instituições do Estado, servindo dum meios que lhe permitiu tornar acessível a revolução, isto é, engajar a população a todos os níveis e corrigir os grandes erros que se iam cometendo, fazer da sua governação um desafio popular, o que acabou servindo como um forte elemento de inclusão dos moçambicanos no processo de governação.

Iniciado o Processo de Revolução Verde

Apesar de não ter sido assim definida tecnica e científicamente desde o inicio da sua governação, os seus planos sempre estiveram assentes no facto de que agricultura deveria ser o factor dinamizador e impulsionador do desenvolvimento económico nacional. Também não poderia ser de outro jeito não fossemos um país em que grande parte da sua população é rural, que vive num meio em que a principal actividade desenvolvida é agricultura aliado ao facto de que mais de 60% dos produtos de primeira necessidade consumidos em Moçambique serem produtos importados, mostrava-se indispensável iniciar um processo de revolução agrícola, aumentando os níveis de produtividade, melhorando as nossas sementes, reactivando a barragem de Chokwe, instando as populações a produzirem cada vez mais para o seu sustento e caso se mostre possível para exportação.

Foi exactamente isso que Guebuza fez, tendo de forma paralela trabalhado no sentido de abrir vias de circulação, estradas, pontes, ramais de acesso, que permitiriam que a produção pudesse ser comercializada, que os mercados fossem alimentados, que o país pudesse diminuir a importação de produtos de primeira necessidade que a nossa auto-sustentação não estivesse dependente de outros países.

Sem dúvida que Guebuza não foi inteiramente feliz no seu processo de condução da Revolução. É preciso compreender que Guebuza não tendo um bureau político de outrora, que comprendia na plenitude o sentido de unidade-critica-unidade, isto é, um centro onde a confiança e a camaradagem não substituiam a discussão árdua, e aberta dos assuntos porque o interesse central estava presente em todos, acabou sendo acompanhado ao processo revolucionário por gente sem o cometimento necessário para a causa, que não estava preparada para levar a cabo o processo revolucionário que se pretendia, gente que ficou a repeti-lo, gente que ficou a endeuzá-lo em vez de fazer, criar, procriar, disseminar gente que ainda queria delapidar o herário público, desrespeitar as instituições e o cidadao comum, o que acabou sendo um verdadeiro constrangimento ao alcance do objectivo central.

É preciso compreender que Guebuza não conseguiu levar consigo académicos e outras camadas da sociedade que comprovadamente seriam uma mais valia para o processo revolucionário, não apenas porque não tinha vontade, também é verdade que a própria FRELIMO não estava totalmente preparada para essa viragem, razão pela qual as nossas instituições públicas ainda tem um aparato político bastante forte, os distritos que deveriam estar apetrechados dos verdadeiros cerébros, dos verdadeiros motores de densevolvimento ainda não os têm na dimensão que se deseja, assim como regista alguma relutância e dúvidas quando a justiça tenta dar um sinal de pretender reagir, isto porque os automatismos políticos ainda não compreenderam a dimensão da Revolução que se pretende levar a cabo.

E dentro destes erros e precalços que Guebuza teve é preciso sublinhar que o maior a meu ver foi o facto de não ter conseguido galvanizar a juventude o maior grupo populacional de Moçambique para esta frente de combate. É indiscutível que toda e qualquer Revolução é feita pela juventude, tanto de idade como de espírito, foi assim com todas as gerações que dela nos orgulhamos hoje, tiveram o seu espaço e o país ganhou com isso.

Para o efeito Guebuza deveria ter colocado dentro das suas fileiras gente jovem, gente que levasse a cabo consigo a sua mensagem, gente que inovasse, gente que o apresentasse novas visões de fazer a coisa, pois só assim é que estariamos próximos de alcançar o nosso tão desejado sonho. Prova desse aparente afastamento da juventude na condução do processo revolucionário foram as vozes de vários quadrantes, sobretudo da espinha dorsal do partido Frelimo, que várias vezes questionaram a valia da juventude Moçambicana.

Ora, é preciso deixar bem claro que Guebuza deixou marcas importantíssimas para que possamos continuar o processo de revolução, é preciso estar consciente que o nosso sonho ainda não foi alcançado, que os erros cometidos devem ser transformados em desafios, é preciso estarmos devidamente conscientes de que a juventude deve ser o principal combatente e agente no alcance dos nossos sonhos, que a nossa vitória só será certa se escolhermos com devida perfeição os chamados Comandantes da Luta Contra Pobreza, pois é apartir da base, dos distritos que poderemos e deveremos erguer a nossa economia.

Não tenhamos dúvida que a Revolução só poderá triunfar se todos nos sentirmos válidos e prestáveis, independentemente das nosssas crenças políticas, religiosas ou de outra índole, só venceremos se aprimorarmos a nossa democracia que deve servir como instrumento de busca de alternativas e coesão da nossa moçambicanidade, que sirva como um instrumento de auto-superação permanente pois só assim é que as nossas instituições públicas poderão satisfazer os anseios do cidadão.

Sem dúvida que duma forma geral Guebuza e a Frelimo tem um desafio bastante alto se pretendem continuar a sua epopeia rumo a conquista do sonho dos moçambicanos.Deverão procurar mecanismos de juntar, de chamar, de envolver a todos aqueles que claramente podem ser uma mais valia, de se abrirem cada vez mais a crítica construtiva (unidade-critica-unidade) de criarem um ambiente imparcial nos sectores públicos, de galvanizarem a juventude, de serem implacáveis no combate a corrupção e a criminalidade pois só assim é que a REVOLUÇÃO TRIUNFARÁ.

11 comentários:

  1. Olá, obrigada pelo seu email, e o convite para lermos e comentarmos sobre a sua dissertação. Vejo que faz uso repetido da palavra "revolução", e fico sem entender, dado que sob o meu parecer uma revolução implica mudanças drásticas so sistema, na liderança, ou no equilibrio do poder. Isto, para mim, opõe-se a um processo, onde as mudanças são mais menos drásticas, e dão-se na verdade de forma paulatina.

    Será que mudanças drásticas destas ocorreram de durante o mandato do pres G? E quando se refere à revolução que triunfará, a qual revolucão se refere mais concretamente?

    cumprimentos,

    Nyabetse

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  2. Nyabetse

    Porque anonimos (Pseudonimos) no nosso debate nacional? A partida senti que ainda vais regressar a esta casa para fazeres o teu comentario com base numa leitura plena. Confesso que exitei bastante em responder por varias razoes, uma das quais e que nao gosto de falar com anonimos.

    Mas ok, se tomarmos em consideracao que todas as suas perguntas a mim dirigidas sao respondidas pelo texto, quero ser repetitivo apenas para alinhar algo que pode ser interessante, para outros comentarios.

    Duma forma sumaria o texto tenta trazer uma reflexao sobre a REVOLUCAO que Guebuza pretendia levar a cabo, entendendo revolucao nos conceitos por si ja bem definidos. Ao mesmo tempo ficou claro que era uma utopia fazer uma Revolucao em 5 anos tomando em consideracao o estagio em que nos encontravamos aliado aos usos e costumes que tinham se interiorizado, alguns dos quais ate hoje se registam. Veja voce tem um nome, ou melhor tem um outro nome para alem de Nyabetse mas ensiste em nao se identificar, isso sao resquicios de que a Revolucao nao foi feita, mas foi iniciada uma revolucao, foi iniciada um processo. A passagem acima transcrita do discurso de Guebuza na sua investidura reflecte de que Revolucao o texto se esta a referir, mas aproveito para ser preciso, a sua ideia utopica e necessaria de erradicar a pobreza absoluta.

    Abraco

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  3. Do ponto de vista de mobilização da sociedade, o que dizes acima é válido, é real. Os primeiros 5 anos foram para nos despertar no sentido de que sair da miséria depende de nós.
    Nesse aspecto todo o mérito seja dado ao Presidente.
    Mas, convirá comigo, que havia que ir para além do discurso, para além da réplica: da ponta vermelha à sede do distrito do Lago a norte e Matutuine a Sul... creio que faltou algo nessa fase não acha?
    Matsinhe
    PS: Nyabetse é uma bloger conhecida, veja os links sugeridos por Ximbitani. Seu blog é http://maputo-oslo.blogspot.com/

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  4. Caro Matsinhe

    Veja que terei que me desculpar do Nyabetse atraves de si. Mas tambem demonstra que somos muitos os bloguers vao crescendo. Agora tambem nao obsta de nos identificarmos convenientemente, mas isso, fica para uma outra fase.

    Sobre as inquietacoes que levantas ha-de convir que nao se enquadram no ideal politico de Guebuza, mas sim na forma como Guebuza traduziu ou seja implementou o seu ideal politico. Neste aspecto o proprio texto concorda consigo e ilustra varios aspectos que coroboram que poderia ter sido feito muito mais para que a Revolucao Triunfasse, e neste caso, e preciso estar com a mente bem aberta para compreender que Guebuza fez a sua parte mas nao teve uma equipe a escala nacional a altura do seu desiderato.

    Caro Matsinhe

    Este texto emana dum debate com bloguistas, e esta tese que apresento foi bastante discutida, e rebatida, infelizmente os mesmos ainda nao apareceram, mas eu cumpri com a minha parte.

    Abraco.

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  5. Noa, para os desígnios que se bem compreendidos são aglutinadores, o Presidente precisa mais do que um grupo de coristas. Precisa de gente que implemente as ideias que lança. É estúpido que as populações se queixem ao PR dos administradores e chefes do posto. Que andam a fazer os governadores? Estes precisam ser que os regulamentos das leis: devem detalhar e explicar como se faz já que o conceito está na lei. Mas não ´isso que temos.

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  6. Olá Noa,

    A razão pela qual postei como "anónimo" foi uma anomalia no sistema, que não aceitava a postagem com o meu nome. De todas as formas, fiz questão de lá deixá-lo no texto precisamente por não querer ser anónima. Já agora convido-o a dar um salto ao meu cantinho ;)

    Voltando ao debate em si, concordo com o Matsinhe e com o de Sousa. Eu acho que em Moç houve um governo, e durante os 5 anos deste governo, houve um processo marcado por um grande indealismo, e acções que embora sejam de louvar, estão distantes de ser uma revolução, no sentido concreto da palavra.

    Para, em Moç pode estar em curso um processo de mudanças paulatinas.

    Abraços,

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  7. Caro Nyabetse,

    Como deves ter reparado no comentario que faco ao Matsinhe me desculpei, e aproveito para dizer que estive em sua casa, me pareceu que nao poes pes la ha muito tempo, volta a casa Nyabetse.

    Agora Nyabetse,

    Nao basta concordares com o Matsinhe e com o Martin, para nao poderes perceber que foram desencadeados ideiais a altura de uma Revolucao, claramente uma viragem repentina, pois nao estou a imaginar que nao o seja erradicar a pobreza em 5 anos num pais que 60% do orcamento geral do Estado provem de apoio externo.

    E verdade que a Revolucao ficou por triunfar, era de se esperar, mas e preciso compreender que varios outros factores, ficarao por se interligar.

    Caro Nyabetse

    A minha pergunta para si e a seguinte: Se e que a governacao de Guebuza foi marcado porhouve um processo marcado por "um grande idealismo, e acções sao de louvar" (Nyabetse, comentario acima) o legado de Guebuza e suficiente para o povo poder dar-lhe o segundo mandato?

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  8. Meu companheiro Martin de Sousa

    Penso que sentes que o meu texto tenta mostrar que Guebuza foi sempre "politicamente" coerente nas suas accoes, digo isso, para discordar consigo quando queres sublevar o papel dos Governadores em detrimento dos Admnistradores.

    Olha Martin

    Ao ter definido o distrito como polo de desenvolvimento, os admnistradores como Comandantes da luta contra pobreza, Guebuza nao so estava a mostrar que esperava mais dos admnistradores como tambem nao estava de maneira nenhuma a pretender que a descentralizacao fosse monitorada pela Provincia, razao pela qual e natural e compreensivel a olhar pela forma como as populacoes foram "decapitando" os administradores pois era ai onde Guebuza tinha concentrado o seu poder, era dai onde Guebuza esperava conseguir ganhar as massas, era ai onde Guebuza indispensavelmente deveria interagir com o seu povo e nao ao nivel dos Governadores.

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  9. Caro Noa,

    Primeiro confessar que fiquei surpreendido ao longo da leitura do texto, primeiro porque tinha o prejuízo de que seria um texto laudatório ao PR e segundo porque, de tí, nunca tinha lido nada tão crítico como o fazes nos últimos 3 parágrafos. Em fim, acho que este é um dos teus textos mais equilibrados.

    Mas para não só cingir-me a generalidades, deixe-me entrelaçar alguns comentários:

    1. Título: As epopeias revolucionárias de AEG

    Caro amigos, falar de «Epopeia» me parece um pouco forçado. AEG é um PR que mostrou um estilo próprio e um aparente pendor para mostrar pulso, pode ter por isso «sacudido» com o aparelho do Estado, mas até chamar-mos isso de «Epopeia» penso que é uma flagrante agressão a semântica.

    Quando vi este termo pensei que o uso do mesmo fosse metafórico, mas pela repetição e uso do mesmo em frase directas, logo vi que o mesmo foi «empurrado». Em linhas gerais uma Epopeia é um grande acontecimento histórico, inaudito, inusitado, veja-se, por exemplo, os poemas de Homero a esse propósito.

    Outro termo usado de forma desbragada é a palavra “Revolução”. Para que se fale em revolução, se pressupõe uma viragem radical do curso histórico, cultural, social de uma nação, penso que AEG não criado nada próximo disso, sem que para tal lhe retiremos o mérito em ter sido um verdadeiro impulsionador de «resultados rápidos» na governação. Porém, como tú bem o dizes esse desiderato Guebuziano era muita areia, ou melhor, era uma enxurrada para o trémulo camião dos seus Ministros.

    A este propósito penso que neste quinquénio, houve uma proliferação, sem precedentes, de um discurso repetitivo, de um apego as palavras mais do que as acções. Termos como «Pobreza absoluta», «Revolução verde», «deixa-andar», «auto-estima», foram usados a propósito e a despropósito. São palavras que serviram de abrigo a todo discurso que escasseia em conteúdo e sobretudo para finalizar «em grande» tudo que estivesse desprovido de senso prático.

    2.Combate a pobreza absoluta
    Fiquei negativamente impressionado consigo neste capítulo, pois, redundaste os teus argumentos em puros clichés programáticos Governamentais.

    O Governo já tem porta-vozes que bastem e espaços de comunicação ciclópicos para falar das directivas gerais do plano quinquenal. Para nós, analistas, se bem que somos, cumpre-nos escalpelizar, com detalhes, números e metas o que foi feito para melhor de facto a pobreza. Os discursos gerais e a filosofia do combate a pobreza já foi exaustivamente proclamado pelo Governo, não precisamos voltar a repetir isso. Para não cair no mesmo erro da superficialidade, dou apenas um exemplo, será que de facto a pobreza baixou em Moçambique? Em Maputo por exemplo, o centro económico do País, a pobreza aumentou, passou de 47% para 54% (veja um estudo da UEM sobre padrões de pobreza urbana).

    Então falar de que o combate a pobreza é um sucesso, sem indicar os critérios, as metas e os estudos que sustentam isso, é mais propaganda que análise.

    3. Revolução Verde
    Publiquei um texto no novo tábloide «Canal de Moçambique» sobre esta matéria. Apenas uma única pergunta: os 3 grandes objectivos da Revolução verde a)Melhoramento de sementes; b)Mecanização agrícola e c)Irrigação agrícola - serão medidas «revolucionárias» ou medidas normais e corriqueiras de qualquer gestão de agrária de qualquer País. E mais, quais são os mecanismos de operacionalização destas medidas? Serão mesmo sustentáveis tecnicamente as taxas de crescimento do arroz, milho e trigo traçados no Plano de Acção de Produção de Alimentos? haverá um único professor universitário com coragem de ensinar aos seus estudos as medidas técnicas descritas neste Plano? Meu caro amigo, deixemos de brincar, deixemos de politiquices, se bem que o nosso objectivo é mesmo contribuir para um debate profícuo.

    4. Os erros de AEG
    Aqui acho que foste muito feliz apenas no aspecto de selecção de colaboradores que o PR fez para o acompanharem no processo de desenvolvimento e gestão da coisa pública.

    Um abraço amigo

    Venâncio

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  10. “será que de facto a pobreza baixou em Moçambique?”

    Meu companheiro Venêncio. O título acima retiro do seu comentário. Olha vou tentar me referir a aspectos que acho que tem realmente relevância no cotexto da nossa discussão.

    1 Epopeia = Revolução
    Do ponto de vista semantico, lexico gramatical a tua definição dos termos acima está inteiramente correcta, e foi nessa base que transportei para correlacionar a visão do combate a pobreza como expoente máximo de todas políticas proprostas por Guebuza. Não creio que haja dificuldade em poder se claramente dizer que os ideais políticos apregoados na governação de Guebuza pecaram por carecer de verdadeiros pilares para a sua sustentação, ainda assim, é preciso estar a altura de poder referênciar que foi feito algo para ser tomado em consideração.

    Meu Caro,

    Não estou a crêr que estejas convicto, ou realmente a espera que em 5 anos a pobreza iria baixar num grau de grande significancia. É exactamente aqui onde acho que iniciou-se uma utopia necessária. Ainda assim não tenho dúvidas que sobretudo no meio rural existem indicadores que nos levam a crer que passou a existir maior circulação de capitais, algum crescimento infra estrutural, entre outros factores que seguramente se traduzem num relativo melhoramento da condição de vida dos cidadãos.

    Vena,

    Não podes ter dúvidas que o que esperava era realmente fazer uma Revolução, isto é, partindo dos números da pobreza em Moçambique que tão bem conheces, para uma fase de erradicação da pobreza absoluta, não tenhas duvida que isso é realmente uma Epopeia, uma Revolução?

    Companheiro,

    No seu terceiro ponto dedicado a Revolucao Verde, tentas de alguma forma mostrar porquê a Revolucao Verde falhou, e desse jeito acabas concordado comigo pois tens a percepção de que foi uma decisão bastante acertada ou seja politicamente bem definida e mal executada. Voltamos a esfera inicial, ambos concordamos que Armando Guebuza acertou no seu ideal para a area agricola mas a sua implentacao nao tera sido eficaz.

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