Prof. Dr Carlos Nuno Castel-BrancoLevantou-se um debate polémico em torno do nome da ponte sobre o Zambeze. Nem outra coisa seria de esperar, dados quatro factores: (i) o nome escolhido (o do Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, controverso pelos seus métodos de governação e ligações activas com o mundo de negócios); (ii) o contexto político em que o nome foi escolhido (fim de mandato de uma governação absolutista, com um ambiente de crescente lambe-botismo e carreirismo e crescente culto de personalidade, conjugados com o ciclo eleitoral em que nos encontramos); (iii) a forma como a escolha foi feita (a única, ou uma das raríssimas sessões do Conselho de Ministros não presididas pelo PR neste mandato, em que foram rejeitadas opções claramente mais neutras e unificadoras sem qualquer justificação aceitável; seguida da declaração de irreversibilidade da escolha, a qual, por si só, é um reconhecimento de que existe um problema com a escolha); e (iv) o significado e o simbolismo histórico da travessia do Zambeze (esforço colectivo de gerações de Moçambicanos combatentes libertadores, simbolizando que enquanto o colonialismo tudo fez para impedir a travessia do Zambeze, os Moçambicanos livres e combatentes tudo fizeram para promover a justa e livre travessia desse majestoso Rio).
Nas várias mensagens sobre o nome da ponte do Zambeze que já recebi, não há nada que justifique a atribuição do nome de Armando Emílio Guebuza (AEG) à ponte. Há uma cantilena sobre o significado da ponte, outra sobre os feitos recentes do grande timoneiro, mas não existe a mais pequena relação lógica entre as cantilenas e o nome da ponte. Provavelmente, para a maioria das pessoas o que interessa é que haja uma boa e sólida ponte e cada um usará o nome que quiser. No entanto, há algumas considerações que gostaria de fazer usando o debate sobre o nome desta ponte como pretexto.
Historicamente, a travessia do Rio Zambeze tem sido fundamental na nossa vida. A travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO foi um dos marcos fundamentais na construção da vitória sobre o colonialismo português. Por isso, até temos ruas, praças, escolas, etc., que se chamam “Travessia do Zambeze”. Mais uma vez, com a ponte a inaugurar em breve, a travessia do Zambeze será um marco histórico na unificação física do território nacional e na reafirmação e consagração da integridade territorial. Enquanto o colonialismo português tentou, com Cahora Bassa e com o colonato, impedir a travessia do orgulhoso rio Zambeze, a vitória do Povo Moçambicano permitiu a construção de uma ponte para facilitar e promover essa travessia. Essa vitória, construída por milhões de heróis, foi sendo erguida em torno de eventos históricos como a travessia do Zambeze para Sul. Portanto, a ponte sobre o Zambeze tem valor e simbolismo histórico que de longe ultrapassam o nome de qualquer pessoa viva ou morta. A ponte sobre o Zambeze estava inscrita nas directivas económicas e sociais do III Congresso, foi reafirmada no IV Congresso, planificada e orçamentada no mandato do governo anterior (1999-2004), executada no actual mandato (2005-2009). Portanto, se fosse dado um nome presidencial a essa ponte, acho que ela se deveria chamar “Eduardo Moisés Alberto Guebuza”.
Portanto, ao contrário do que é afirmado por alguns, o AEG nao é o patrono da ponte. A epopeia da travessia do Zambeze não tem patrono individual – se tem patrono, este é colectivo, somos nós todos e tem sido a nossa luta pela nossa libertação do colonialismo, do fascismo, do apartheid, do racismo, da opressão, da repressão, da indignidade, do lambe-botismo, da “cunha”, da miséria; e pelo desenvolvimento com equidade e justiça social e sustentabilidade ambiental e intergeracional. Se existe, o patrono da ponte do Zambeze somos nós todos que lutámos e lutamos por Moçambique.
Por outro lado, não é de bom gosto que o Presidente vivo e em exercício ande a pôr o seu nome, ou a permitir que outros o façam, em obras nacionais desta envergadura. O seu nome ficará ligado à ponte pois uma placa recordará as gerações vindouras de quem a inaugurou. Mas cai mal, fica mal, sabe mal e cheira mal atribuir o seu próprio nome à ponte. Politicamente, ele perde mais com isto do que ganha.
A internet, os celulares, a imprensa, andam agora a gozar com isto. O gozo chega ao ponto de hoje qualquer coisa (desde o novo caixote de lixo imaginário produzido por uma metalo mecanica nacional até a ultima tenda hipotética de pipocas aberta em Tete) ser chamada AEG. Ate já há quem proponha chamar AEG a tudo e todos – todas as ruas, praças, escolas, centros de saúde, edifícios públicos, buracos nas estradas, capim nos jardins e pessoas. Assim já não haveria confusão nem discussão. Todo o Pais se chamaria AEG, seguindo o muito bom exemplo de regimes como o de Mobutu, onde cada Zairota já nascia membro do então chamado movimento revolucionário do Zaire. A dita Africanização do Zaire serviu para legitimar o culto da personalidade e o absolutismo do poder de um regime ilegítimo que se dizia anti-imperialista e nacionalista mas que era, na prática, fiel parceiro e servidor das multinacionais que dominaram aquele território e povo.
Não penso que seja responsável e digno desgastar a imagem e a dignidade de um símbolo e de um órgão nacional. O PR é um símbolo e um órgão da República, e nesta a soberania é dos cidadãos. O PR não e uma pessoa qualquer que pode usar o seu nome, ou deixar que o usem, a torto e a direito. A tarefa do PR não é tentar, a todo o custo, ficar registado na história. O PR não é propriedade privada nem pessoal. É UM SÍMBOLO E UM ORGÃO DA REPÚBLICA. Como cidadãos desta República, será que nos sentimos bem quando o PR vivo e em exercício põe, ou quer por, ou permite que ponham, o seu nome em tudo, incluindo numa dita square (praça) situada no coração da “lavandaria” nacional de dinheiro sujo e, ao mesmo tempo, na ponte que traz consigo o significado e o simbolismo da epopeia da Travessia do Zambeze? Sentimos orgulho nisto? Sentimo-nos libertados, dignificados e com mais auto-estima com isto? Provavelmente, alguns de nós estão satisfeitíssimos; mas também é bem provável que muitos outros não estejam.
Será que gostaríamos mesmo de ver AEG em todo o lado? Será que não nos preocupa saber que quando um cidadão assume funções de órgão da República tem o poder e a oportunidade para se esquecer dos princípios Republicanos, pessoalizar o poder, as obras e os símbolos da soberania dos cidadãos da República, e que depende dele, não dos outros órgãos democráticos da República, se tal cidadão usa (ou permite que outros usem) o poder que lhe é conferido pela República para benefício pessoal, sejam eles eleitoralista, de ego pessoal ou quaisquer outros? Será que sentimos orgulho e auto-estima quando o Conselho de Ministros se reúne para dar o nome do seu chefe em exercício a uma ponte, em vésperas de fim de mandato e do início de uma fase crítica do ciclo eleitoral, dando a entender que os membros do CM encontraram uma forma colectiva de tentar garantir os seus postos no próximo mandato (uma espécie de acordo colectivo de trabalho)? Será que usar as obras públicas para fim eleitoralistas ou de culto de personalidade nos alegra e satisfaz? É por isto que gerações e gerações de Moçambicanos lutaram e lutam? É por isto que continuamos a lutar hoje? Para não existirmos a não ser que o PR nos reconheça, para sermos apóstolos da desgraça a não ser que as nossas obras levem o nome do PR, a sermos alvos a abater (“…a destruir como o colonialismo foi destruído…”, como diz uma das cartas que recebi) por ousarmos não concordar, por ousarmos criticar e pensar diferente? Algumas das nossas tradições e crenças tornaram-nos confortáveis com, e dependentes da, omnipresença, omnisciência e omnipotência de algum ser divino. Em face da dúvida suscitada por nunca nenhum ser divino nos ter aparecido, apesar da sua omnipresença, acabamos atribuindo essas características a pessoas como nós, neste caso o PR da ocasião, seja ele quem for. Na última conferência de quadros do Partido Frelimo da era AEG, já se falava de omnipotência, omnisciência e omnipresença. Estes conceitos fazem parte da cultura da submissão ao divino e ao poder e do pragmatismo dos lambe-botas, mas são totalmente opostos à cultura da cidadania Republicana, democrática e socialista (em que o Partido Frelimo se diz inspirar). Será que isto não nos preocupa?
Nós vivemos numa República, e a República e os seus cidadãos não se submetem a nada, a não ser às suas próprias leis e regras, produto da sua experiência e conflito histórico, social e político. Os cidadãos são os soberanos da República. Aliás, um Partido que diz identificar-se com o socialismo democrático deve saber que em democracia socialista a soberania é dos cidadãos trabalhadores da República socialista democrática, e não do patrão (no socialismo democrático republicano, o tal patrão nem deve existir). Além disso, a omnipresença, a omnisciência e a omnipotência sabem mal, cheiram mal e soam mal. Sabem, cheiram e soam a Gestapo, a PIDE, a BOSS/NIS, a Mobutu, a fascismo, a repressão, a opressão, a humilhação. O “patronismo” disto e daquilo assemelha-se à reclamação da paternidade da democracia que um pobre idiota nosso compatriota, e seu porta-voz, continuam a fazer.
Ao contrário do proclamado por muitos, à direita e à esquerda, não há “fim da história” – só no fim do espaço/tempo, e isso levará vários biliões de anos a acontecer para o Universo corrente; pouco mais que um par de biliões de anos para o nosso sistema solar; e talvez alguns milhares de anos, se tivermos mais juízo do que até aqui, para a Humanidade terrestre. Nesse tempo, muita água passará em baixo da ponte e não me admiraria que ela, a ponte, mudasse de nome, particularmente se o seu nome original for AEG.
Imaginemos a indignidade e vergonha causadas por uma resolução de um futuro Parlamento nacional, daqui a alguns anos, a alterar os nomes de obras nacionais para resgatar o seu real significado histórico e Republicano! Imaginemos a imprensa, nessa altura, a entrevistar o Felício Zacarias, já velhinho, e este a dizer a qualquer coisa do género “fomos obrigados a dar o nome, no contexto pensávamos assim, eu estava contra mas cumpri orientações, o novo nome resgata o nosso sentimento real da época mas naquela altura não nos podíamos opor; quando disse “irreversível” falava do sentido legal na época e não do sentido da dinâmica histórica”, e outras coisas que tais. Imaginemos! Fechemos os olhos, por um momento esqueçamos os deveres partidários de esfregar o poder nestas alturas críticas do ciclo político, e imaginemos daqui a alguns anos alguém a pensar para a sua máquina quântica pensante – que terá substituído os computadores tal como os conhecemos hoje – uma carta em que se lê:
“...amo-te, ó histórica travessia do Zambeze que deste nome à ponte que nos uniu fisicamente”, (em vez do actual “…nós te amamos Armando Emílio Guebuza ponte”, que recebi numa carta, em que ambiguamente se usa a ponte para esconder a esfregadela ao divino AEG, ou se reforça a divindade do AEG atribuindo-lhe, também, a capacidade de ser ponte).
“…amo-te, ó histórica epopeia libertadora geradora de heróis combatentes, indomáveis, insubmissos como tu, ó poderoso Zambeze que és livre como o pensamento soberano dos Homens que te atravessaram lutando pela liberdade; heróis, uns lembrados outros outrora esquecidos, como Cândido Jeremias Mondlane, mas hoje resgatados, que proporcionaram a primeira de muitas travessias libertadoras do teu leito, heróis que enfrentaram a tua força e nela se inspiraram e inspiram para gerarem o seu espírito indomável e insubmisso que, como tu, ó majestoso Zambeze que continuamente se renova, simboliza o que são os cidadãos da República socialista democrática de Moçambique…” (desculpem a minha total e completa ausência de veia poética, mas nunca tentei ter uma).
Imaginem a ansiedade com que aguardo ouvir o que os vira-casacas de amanhã (lambe-botas de hoje) vão dizer para se justificarem. Ou como anseio o momento em que o Felício Zacarias vai finalmente aprender que nada neste mundo é irreversível (para além do tempo no espaço sobre o qual nem o AEG nem o CM – aliás, nem Einstein – têm controlo), nem mesmo a decisão de atribuir o nome do grande timoneiro à ponte do orgulhoso e majestoso Rio.
E nessa altura, o cidadão AEG não estará aqui para esclarecer para todos nós ouvirmos bem que um grupo de puxa-sacos usou o seu nome em vão, e que ele nunca lhes disse para o fazerem.
Para cortar curta uma história que já vai longa, chamar ponte AEG à do Zambeze cheira mal, soa mal, sabe mal, cai mal e parece mal. Parece, cheira, soa e sabe a culto de personalidade de baixa qualidade, e este cheira, sabe e soa a fascismo, a absolutismo monárquico, a violação grosseira e de mau gosto dos princípios Republicanos, da cidadania Republicana e do socialismo democrático; e cai como mais uma de muitas nódoas no pano já muito sujo que reflecte a imaginação “democrática” dos lambe-botas do nosso actual regime político. Fica mal usar o nome do PR, símbolo da soberania dos cidadãos da República, a torto e a direito, e em vão (e, mais provavelmente, sem a sua autorização) para dar nomes a pontes sobre rios majestosos, indomáveis e cheios de história como o Zambeze (além de ser também nome de uma square qualquer de um complexo comercial de origem duvidosa).
Como dizia Nicolai Bukharine, então membro do Comité Central do Partido Comunista da Rússia, quando Estaline propôs um mausoléu para o corpo de Lenine e se visualiza a atribuição dos nomes Estalinegrado e Leninegrado a duas grandes cidades, “…um cheiro nauseabundo começa a penetrar no Comité Central do Partido:” Poucos anos depois, a grande purga Estalinista levou ao assassinato de milhões de comunistas militantes de causa justa e não carreirista (incluindo Bukharine) e de muitos outros cidadãos honestos, inovadores, trabalhadores que ousaram opor-se ao culto de divindade e às políticas repressivas do querido dirigente, que acreditaram que a República, principalmente a República socialista, deveria ser profundamente democrática e em total ruptura com o poder absolutista do Czar e de Estaline e dos seus aparelhos de propaganda e repressão. Os assassinatos em massa não pararam a história, nem o pensamento, o vento e a acção. Estaline e o seu tipo de regime estão hoje no seu devido local de repouso – o caixote de lixo da história. Não direi eternamente, porque a história não tem fim.
Felizmente, não há machado que corte a raiz ao pensamento porque este é livre como o vento. Aliás, os combatentes da liberdade em Moçambique sabem muito bem que não se corta a raiz ao pensamento, que, como dizia Samora, não se para o vento com as mãos. O fascismo colonial e racista não travou o pensamento libertador; atiçou-o. É esse o sentido do belo poema de Armando Guebuza em que ele diz que as suas dores mais as nossas dores vão acabar com a opressão e conquistar a liberdade.
Por mais nauseabundo que o cheiro possa ser num certo momento, o vento da história se encarregará de limpar o ar. E o vento da história é o produto de todos nós, inspirados, entre outros, pelos obreiros da primeira e das muitas outras Travessias do Zambeze.
Nelson Mandela é uma pessoa cuja dignidade é, por enquanto, inquestionavelmente exemplar para todos nós. Particularmente, há dois momentos e processos, entre muitos outros, que marcam profundamente a forma como muitos para ele olham com admiração e respeito. Um, foi uma declaração que ele próprio fez, há muitos anos, pouco depois da sua libertação, em que disse que não era nenhum messias, mas apenas um combatente da liberdade, convicto e determinado, como tantos outros milhões de sul-africanos que ousaram lutar e ousaram vencer o apartheid. Outro, foi a sua extraordinária magnanimidade na vitória, contribuindo para criar um mundo em que a justeza da luta resulta em que todos ganham com a Vitória dos ideais justos dessa luta, mesmo os que tenham lutado contra esses ideais. Faz lembrar as palavras de Samora, que dizia que a nossa luta nos libertou a nós e aos próprios colonos e aos colonialistas. Ou as proféticas palavras de Jorge Rebelo, que dizem que não basta que a nossa luta seja justa, é necessário que a justiça viva dentro de nós.
Como seria magnífico se no acto da inauguração da ponte o PR (símbolo e órgão da nossa República) fizesse justiça a todos os Moçambicanos que, lutando por Moçambique, contribuíram para a construção da ponte do Zambeze! Como seria glorioso, para AEG como cidadão político, que no acto da inauguração da ponte usasse a sua tendência para a omnisciência e omnipotência para declarar, alto e para todos nós ouvirmos bem, para todo o Mundo ouvir bem, que em nome dos cidadãos livres e soberanos da nossa República inspirada na epopeia libertadora e heróica de ontem e de hoje, a ponte ora inaugurada passaria a chamar-se “Ponte da Travessia do Zambeze” (ou ponte do Zambeze, ou ponte da Unidade Nacional).
Aí estaria a ser reforçada a dignidade do PR como órgão da República e a magnanimidade do AEG como político de dimensão nacional e internacional. Aí, a intervenção do PR, AEG, estaria a unir todos nós na mesma vitória e no mesmo simbolismo histórico da segunda travessia do Zambeze.
Aí, o PR, o político AEG, estaria a inaugurar uma ponte entre o passado glorioso e o futuro que se quer brilhante, mas também a indicar claramente que o nosso País é uma República em que o poder e a soberania pertencem aos cidadãos e não podem nunca ser pessoalizados ou usurpados para fins pessoais ou outros contrários aos princípios Republicanos democráticos.
Aí estaria a ficar clara a isenção do PR em relação aos lambe-botismo dos que usam e abusam do seu nome e, por inerência, de um órgão da República, em vão. Aí, o lambe-botismo estaria a ser postos no seu lugar, o caixote do lixo da história. Mas, claro, estou imaginando que o PR gostaria, ele próprio, de fazer ou manifestar algo do género. Mas não estou totalmente seguro que esse seja o seu desejo.
Que a historia a todos nos absolva.
A Luta Continua, em prol dos princípios inalienáveis da República socialista democrática.
Teu amigo e camarada,
Carlos Nuno
PS: Amigo e camarada, não me respondas evocando tradições Africanas que requerem um chefe omnipotente e omnipresente. Essas ditas tradições são criadas e instrumentalizadas para legitimar o ilegítimo, e já cheiram nauseabundamente mal. Foi esse tipo de tradições absolutistas e reaccionárias que abriu as portas para a nossa colonização. Também não me respondas dizendo que afinal é só um nome – se isso fosse verdade, então estaríamos a desafiar ainda mais do que imagino a dignidade do PR. Não me digas que outros Presidentes fizeram a mesma coisa – se a tarefa do actual é apenas repetir o que outros fizeram, então por que não deixar os outros lá em vez de eleger um novo? O que é que o novo traz de inovador ao País? Não me acuses de não ter intelectualizado suficiente a questão do ponto de vista de filosofia política. Nem sequer o quis fazer. Só quis mostrar dois pontos: se a ponte do Zambeze tem por trás de si o simbolismo histórico da epopeia libertadora da Travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO, epopeia esta que não pode nem deve ser pessoalizada em ninguém, vivo ou morto, por ser uma epopeia colectiva de todo um Povo; por outro lado, o culto da personalidade tem por trás de si o absolutismo e à sua frente a tirania e oportunismo. Não me digas que não tenho legitimidade para me exprimir sobre estas questões como o fiz. Claro que tenho, pois sou cidadão livre e soberano desta República. Qualquer outra característica – etnia ou região de origem, tamanho dos olhos ou do nariz, cor da pele, forma de expressão, posição social ou cultural, altura ou largura, posição na hierarquia das listas oficiais de cidadãos – é completamente irrelevante quando comparada com a minha característica de cidadão livre e soberano desta República. Finalmente, de nada te vale acusares-me de ser da oposição (como hoje é moda). Primeiro, há uma diferença substancial entre “ser da oposição” e “estar na oposição”. Segundo, nas condições actuais nem é preciso mudar de Partido para estar na oposição. Terceiro, estar na oposição ao culto da personalidade e ao absolutismo e oportunismo a ele associados, e ser a favor da República socialista democrática são, para mim, motivos de enorme orgulho e auto-estima, e geradores de enorme e inesgotável energia. Quarto, ainda que eu fosse “da oposição”, não seria esse um direito inalienável que teria como qualquer cidadão, garantido pela Constituição e protegido pelo PR? Um abraço.
Respeitado Dr Castel-Branco,
ResponderEliminarEm outros fora, tambem tem sido motivo de debate o nome atribuido a ponte sobre o Rio Zambeze o nome de Armando Emilio Guebuza. A partida julguei que fosse apenas um debate conduzido ou emanado com raizes politicas mas depois apercebi-me que era um pouco mais que isso, tratava-se de algo realmente anormal.
Bem, como tambem ja tinha referenciado em outros blogs, pessoalmente nao vejo nada contra o facto de a Ponte se chamar Armando Emilio Guebuza como o autor deste texto tambem o deixa transparecer apesar de nao vincar essa opniao.
Por estar devidamente convencido de que a Ponte se vai chamar Armando Emilio Guebuza, queria convidar ao Dr Castel-Branco a algumas inquietacoes?
Faltou legitimidade ao proponente do nome de Armando Emilio Guebuza para aquela ponte? O Conselho de Ministros ainda que na ausencia do Presidente da Republica nao tem poder o suficiente para aprovar tal decisao?
Dr Carlos,
Sera alguma distracao da minha parte, ou todos quanto discutem estao realmente preocupados com o mecanismo como este nome foi atribuido e nao no nome em si. Apesar de nao me parecer uma atribuicao ilegal a olhar para os orgaos que a propuseram, me parece que o mesmo teria mais forca e seria mais concessual se tivesse sido proposto pelas populacoes. Agora, e verdade que seria um metodo bom, mas tambem singular, porque lembremo-nos dos nomes das nossas escolas, estradas, pontes, hospitais, como sao atribuidos? Onde esta o erro desta vez?
Para que os nomes de obras publicas nao dependam nem de interesses politico-partidarios ou de opcoes governamentais o que e que devera estar devidademente legislado?
Voltarei quando as reaccoes assim o permitirem.
Caro Noa. Obrigado por fomentar este tipo de debates no teu espaço, trazendo uma voz incontornavel quando se fala de desenvolvimento.
ResponderEliminarNoa, o argumento e causa aqui já foi exposto por mim, quando denunciei a pauperizaçao do nome de AEG no altar da propaganda política. Também já escrevi em 2004 uma carta aberta no defunto embondeiro acautelando o grupo de lambe-botas de que o futuro presidente tinha que se acautelar.
O que hje esta acontecer é exactamente o resultado das opçoes de AEG, aquando da formaçao do seu governo; do partido de que é líder e das expectativas por ele lançadas.
Estamos todos na torradeira da democracia...sem nenhuma piscina por perto. Vamos até o fim.
Abraços
Amigo Egidio Vaz,
ResponderEliminarE verdade que existem varias coisas para criticar, existem varias coisas de que ja criticamos que nao caberiam se fossemos forcados a mencionar neste comment.
Agora,
Egidio, aproveito para te perguntar qual e o teu argumento sobre o nome da Ponte? Existe algum problema de se chamar Armando Emilio Guebuza? Ou o mecanismo para atribuicao desse nome e ilegal?
Caro Egidio,
Pode parecer pouco feliz virar meia esquina ouvir este ou aquele nome nas nossas obras publicas tipo Escola Secundaria Francisco Mayanga, Praca Andre Matsangaissa, Hospital Jose Macamo, etc etc, dependendo do dia, pessoa, motivacoes a muitos esses nomes deixam a discordar, a desejar.
A questao e como tornar que esses nomes sejam atribuidos de forma a que todos estejamos agradados, existe esse mecanismo?
Eu nao condeno a atribuiçao do nome AEG aquela ponte. O que nao verdade condeno e com muita veemencia é a pauperizaçao do nome de AEG, atraves da atribuiçao do seu nome a tudo o que é sitio. Isto é mau.
ResponderEliminarOutra coisa que condeno é de facto esse lambebotismo. O argumento do conselho de ministros é insuficiente. Joaquim Chissano deu o seu nome ao centro de conferencias de Maputo. E na altura ele era presidnete. Ninguem o criticou! Hehe, os tempos sao outros. So que comparando, JC tem muita pouca coisa com seu nome em relaçao a AEG.E JC governou este pais por mais de 16 anos enquanto que AEG pouco mais de 4.
Isso espanta a muitos!
Prof Dr Castel-Branco& Dr Egidio Vaz,
ResponderEliminarCom todo o respeito que vos e devido, quero vos convidar a mostrarem claramente de que e que voces estao em dasacordo afinal? Quanto me estao a demonstrar e que o nome de Armando Emilio Guebuza e popular? E um nome bastante querido por muitos quer sejam empresarios, singulares, jovens empreendedores, etc, etc. Nao vejo o que ha de errado nisso.
Sinceramente que variadissimas e reputadas individualidades questionem o nome da Ponte Armando Emilio Guebuza e normal mesmo que estivessem a questionar o nome. Mas a ilacao que tiro e a correlacao do ultimo texto de Egidio Vaz (Colectivização do risco e privatização do lucro: A governação de Guebuza em cinco tempos) e o mais recente de Castel-Branco o que tem em comum e a discussao do merito da governacao Guebuziana.
Senhores,
Estao a perder uma oportunidade flagrante de discutir ou de apresentar propostas sobre mecanismos que devem ser pautados para atribuicao de nomes aos nossos locais/ ou obras de utilidade publica.
Companheiros,
No meu modesto modo de ver, vos estais a destrair os incautos para apresentar as vossas opnioes sobre os exitos da governacao da Guebuza, pois seria ridiculo o demasiado, se eu estivesse a perceber que estao a dizer que a ponte poderia se chamar Armando Emilio Guebuza se tivesse se inaugurado no ano passado, e hoje as vesperas das eleicoes, a ponte se deve chamar Unidade Nacional. Qual e afinal o ponto central de discordia?
Sou suspeito de comentar, mas vamos a isso.
ResponderEliminarSinto que ainda estou a calçar botas de ferro quando tento me libertar do conflito de posições entre os apóstolos da desgraça e os lambebotas. Está difícil !
Sobre o texto do Dr Castel Branco, achei muitíssimo interessante, não pelo conteúdo em si porque acho que a discussão sobre o nome da ponte Armando Guebuza no contexto em que surgiu e pelos contornos que vai assumindo, assemelha-se a um envelhecimento intelectual precoce, mas achei interessante pela viragem que o Dr Castel-Branco faz em relação àquilo que estou habituado nas suas várias abordagens.
Continuo na expectativa de que em algum momento o Dr Castel Branco, a quem respeito e reconheço as qualidades, se debruçe sobre as implicações de política económica que esta ponte poderá trazer nas dinámicas entre agentes económicos e no desenvolvimento integrado de Moçambique sem, obviamente, ignorar o conteúdo da sua carta a um camarada.
Sinceramente tenho que reler ainda algumas vezes o texto do Dr Castel-Branco para o conhecer melhor.
continuemos o debate...mas quer estejamos contra ou a favor, é sempre bom sintonizar algum canal de rádio ou televisivo para acompanhar a inauguração da Ponte Armando Guebuza, A PONTE DO ANO.
PR, nao se faz rogado tudo aceita e tudo agradece!
ResponderEliminarUm abraco!
SHIRANGANO,
ResponderEliminarInicias um debate que ate mesmo o senhor Prof. Dr, nem sequer ousou em debrucar, me refiro de forma clara ou factual.
Caros
Qual seria ou deveria ser a posicao do Chefe do Governo apos ser atribuida o seu nome a ponte em sua ausencia? Quanto estou informado. Deveria desmentir e desacreditar todo o seu Governo? Ou deveria como estou a sugerir aprender desta situacao e num outro conselho de ministros, ou Conselho de Estado, discutir os mecanismos que devem ser seguidos para atribuicao de nomes a esses locais publicos?
Shirangano,
Queria aproveitar para te colocar uma questao que estendo ao Basilio Muhate? Qual e a sua opniao sobre a Praca Andre Matsangaissa na Beira a Frelimo devera mudar esse nome quando estiver a liderar o municipio? No nosso bairro do Chamanculo, a escola secundaria devera ter outro nome quando Dhlakama, Daviz ou outro politico que nao seja da Frelimo chegar ao poder?
Afinal o nome da Ponte esta sendo usado para na verdade reclamar o que?
Eu sou um dos signatarios da carta que contestava a atribuicao do nome de AEG a ponte sobre o Zambeze, e como, meu caro amigo Noa me pediu para justificar porque razao o fiz, vou em poucas linhas me justificar.
ResponderEliminarO Conselho de Ministros nao é um orgao representativo,tal como o é o parlamento e as assembelais municipais. por isso, duvido da sua legitimidade para atribuir o nome de qual quer que seja o empreendimento. estou a dizer que nao sei em que base legal se apoiou o CM para deliberar em dar a ponte o nome de AEG.
a segunda razao, é porque estamos num momento eleitoral. a atribuicao do nome de AEG a ponte, parece mais propaganda politica do que um verdadeiro reconhecimento do trabalho da figura, como PR.
em terceiro lugar, é inequivocamente lambe-botismo pela parte do ministro proponente, e lambe-botismos tem implicacoes. é que o PR ira sentir um certo receio para remover do lugar o MOPH, que apareceu com esta ideia de o bajular, se for o caso. mas ainda é válida a hipotese de ter sido o proprio PR a escolher o nome para ele, e mandar os seus subditos, sim, isso mesmo, os ministros devem obidiencia a ele, simularem que aprovaram a medida na sua ausencia.
em quarto e último lugar, quero pedir aos caros, para repensarem. porque razao o PR quereria ver seu nome estampado naquele que é o maior empreemdimento erguido pelo Estado depois da independencia? é por ser tanto patriota?
se é essa a razao, entao que faça o que escreveu o meu editor, Joao Chamusse.
Moçambique nao é só feito de pontes, mas de ruas esburacadas, ruinas, contentores de lixo a transboradem, tambem.
Nesta ordem, "que o novo cemiterio que o municipio de maputo planeia construir, seja tambem chamado Armando Emilio Guebuza", estou a citar Joao Chamusse.
Companheiro Borges,
ResponderEliminarQuero apenas tentar encontrar alguns despositivos constitucionais que nos possam ajudar a compreender a legitimidade dos actos do Conselho de Ministros. Ora, se olharmos para a Constituição da República no sey artigo 146 artigos 1 e 3 “ O Presidente da República é o Chefe do Estado , simboliza a Unidade Nacional...” ; “O Presidente da República é o Chefe do Governo” conjugadas com os artigos 200-205 que versa sobre a definição, função, competencias e responsabilidade do Conselho de Ministros, seguramente chegaras a conclusão que a decisão tomada emana de um órgão por demais representativo, com legitimidade o suficiente para tomar tal decisão, isto é, se o Conselho de Ministros é na enssência o Presidente da República, ao mesmo tempo o maior órgão de soberania nacional, tendo o mesmo, ractificado a decisão do nome da Ponte Armando Emilio Guebuza, caro Borges, não tenhas dúvida alguma a decisão é o bastante legal.
Desta forma, penso que poderás te aperceber que apesar dos teus argumentos serem bastante sólidos com respeito ao período eleitoral, ainda que este argumento seja discutível isto porque a ponte teve desde o seu início um cornograma de trabalho e que teve as suas contrariedades com algumas chuvas, mas foi terminado a tempo, e inaugurada assim que ficou terminada ou também quando te referes da razão que leva a que não se proponham nomes de cemitérios, covas, etc, para nome de Armando Guebuza, talvez diria que mais do que isso, vejo ser importante que passemos a ser coerentes com as nossas análises e aí não há dúvida que concordo e isso penso ser concessual que a base pela qual o nome tivesse sido sugerida se avizinha mais a vassalagem ou melhor que os decisores nacionais não nos tem habituado apresentarem ideias divergentes, existiu uma proposta, e não houve alternativa, mas isso não esvazia a legitimidade do nome Armando Emilio Guebuza, para aquela Ponte.
Querido Viriato Diaz
ResponderEliminarPS:
Talvez tenha sido realmente uma grande vantagem responder hoje o seu comentario postado no blog do Araujo, refiro-me ao facto de que hoje, acredito que estamos todos claramente convencidos de que a Ponte se chama Armando Emilio Guebuza. Mais uma vez fica claro que devemos conduzir o nosso debate para o ponto central e não para o periférico, apesar de eu achar que este foi um momento bastante importante para as elites políticas perceberem que podem estar a corroer a sua própria legitimidade com actos irreflectidos e mais cedo ou mais tarde poderão pagar por isso.
Caro Viriato,
1. Enganaram-se aqueles que julgaram que os meus comentarios nesta casa e noutras eram baseados pelo facto de estar convencido de que o nome de Armando Emilio Guebuza era o melhor para Ponte em detrimento de muitos outros que foram popularmente propostos e outros que imaginariamente poderiam ser atribuidos, sim enganaram-se e enganam-se redondamente. Se assim prefirires Caro Viriato, a minha posição nesta casa surge pelo facto de estar desde aquela era até hoje a testemunhar nomes de ruas, hospitais, escolas, com base em extrabismos políticos, como te referes citando Saraiva.
2. Caso estejas realmente certo quando vaticinas que a critica ao nome da Ponte é um indicador de que o povo acordou dum sono anastésico, então faz mais sentido repisar a minha sugestão, segundo a qual neste momento que estamos despertados e embalados na discussão do nome da Ponte, penso que seria uma prova inequívoca de que acordamos, nós o povo, se por exemplo os líderes dos movimentos do não ao nome de Armando Emilio Guebuza para Ponte, apresentassem uma proposta de um mecanismo alternativo para atribuição de nomes as nossas obras e locais de utilidade pública para evitar que outros seguidismos aconteçam ou que propostas sem alternativas voltem a passar.
3. Contudo, apesar de não terem sido as proponentes e nem terem sido consultadas é preciso estarmos claros para o facto de existirem milhares de moçambicanos que se reveem no nome de Armando Guebuza para ponte, como também existem outros milhares que nem sequer lhes interessa saber o nome da Ponte basta que transitem numa obra importante e de grande qualidade, por isso, queria em jeito de fecho lembrar aos nossos ilustres académicos, bloguistas, políticos, etc, etc, a todos quanto participam no debate dos assuntos nacionais, a reflectirmos no mecanismo que deve ser adoptado para que todos nos revejamos nos nomes atribuídos aos nossos locais públicos, pois corremos o risco de em cada alternância governativa, os nossos locais e obras de utilidade pública terem outro nome, o que não será nada bom para a nossa democracia, nem menos para a imagem das nossas instituições públicas que ficaram sem memória institucional.
Abraço
Debate interessante!
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ResponderEliminar'Podem falar o que quiserem...ja esta decidido...a ponte vai se chamar AEG' - Felicio Zacarias, Ministro das Obras Publicas e Habitacao in STV. Mais palavras para que...
ResponderEliminarE a ponte ficou mesmo com o nome Armando Guebuza obviamente...Enquanto alguma classe intelectual e crítica Moçambicana, a que tem acesso rápido aos espaços de liderança de opinião continuar uma classe reactiva e não activa, continuar uma classe que fica a espera que o Conselho de Ministros ou o Presidente tome uma decisão para depois vir queixar-se a não sei quem, ao invês de fazer análises previsionais, propor ideias futuristas, etc., continuaremos a ter abaixo assinados sem assinaturas, Cartas abertas que não fazem eco, artigos de opinião extemporâneos e outras tantas manifestações que acontecem depois do "burro morto".
ResponderEliminarLogo a seguir teremos uma classe intelectual que pensa que há ditadura, que pensa que há exclusão, que faz as mais duras críticas, quando na verdade falta o verdadeiro sentido de visão a este pequeno grupo de intelectuais os quais temos que reconhecer o mérito, mas não reconhecemos o seu timming.
Veja em www.mocambiqueonline.blogspot.com uma resposta de Obed Khan
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