quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A DOUTRINA ECONÓMICA DA TEIA DE ARANHA NUM CONTEXTO DE INTEGRAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO

Notas: Foi me concedida a oportunidade de publicar um texto de uma grande pessoa da minha geracao academica Andes Chivangue, nao exitei, e coloquei a disposicao com promessas de comentar.

Andes A Chivangue

A ideia de discutir o Spider Web Economic Doctrine2 (SWED) ocorreu-me depois de ler o livro Capitalist Neeger, de Chika Oneani, autor afro-americano de ascendência nigeriana, o qual aborda, dentre vários aspectos, o problema da pobreza dos africanos e a sua suposta incapacidade de inovar e enriquecer. Os seus argumentos são apresentados num discurso acutilante e sem papas-na-língua.

Este livro, não fosse a desonestidade teórico-argumentativa de que se encontra impregnado, seria uma razoável reflexão sobre os afro-americanos e sua relação com os caucasianos nos EUA. Entretanto, tem o mérito de lembrar-nos algumas verdades, dentre as quais o facto de os africanos, muitas vezes, comportarem-se como caranguejos dentro duma bacia: quando um tenta sair os outros arrastam-no de volta. Lembra-nos, ainda, a mania que este povo tem de procurar um culpado (normalmente o poder colonial) para justificar as suas incapacidades. De resto, os argumentos do livro não têm enquadramento para um contexto como o de África. E como forma de demonstrar isso fui buscar uma das suas principais pseudo-teorias. O SWED assenta numa comparação que o autor faz entre a estratégia de caça e sobrevivência da aranha e os hábitos de dimensão económica praticados, sobretudo, pelos indianos imigrantes nos Estados Unidos da América. A aranha, para se manter viva, tece uma teia que a protege dos seus predadores e todos os insectos de pequeno porte que entram em contacto com ela, aí ficam, enredados. Segundo Oneani, os indianos comportam-se da mesma forma no que concerne ao dinheiro. Nos EUA, estes imigrantes compram e vendem serviços entre si, fazendo com que o dinheiro não saia da comunidade, acumulando dessa forma riqueza e ajudando-se mutuamente. É esta a sugestão que o autor avança para a comunidade negra nos EUA e, por extensão, ao continente africano. Ora bem, esta estratégia até pode funcionar no país em que ele vive mas não me parece exequível em África. E as razões para a sua falibilidade pretendem-se precisamente com o propósito da discussão deste artigo.

Na verdade, as premissas da abordagem oneaniniana são localizadas e de carácter restrito. Que aplicabilidade teria o SWED num momento em que o mundo vive dois fenómenos globais simultâneos, nomeadamente a integração regional e a globalização económica? A África, particularmente, encontra-se num processo de consolidação de blocos regionais e, nos primeiros estágios, o fenómeno transmite-nos a ideia de fecho a nível local ou regional.

A globalização económica, sob os auspícios da Organização Mundial do Comércio, tendo como operadores do frontline o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, preconiza a liberalização dos mercados a nível global. Estes dois fenómenos, embora pareçam contraditórios, têm como objectivo principal a liberalização do comércio mundial. O fecho a nível regional pode ser visto como um momento de preparação para a abertura a nível global. Não obstante este raciocínio, não descuramos o facto de a integração económica, na concepção balassaniana, olhada no contexto do crescimento equilibrado, visar assegurar um mercado suficientemente vasto para o desenvolvimento paralelo de novas indústrias, podendo-se assim fazer o aproveitamento de economias de escala. O alcance da ideia de fecho estende-se apenas ao facto de, por exemplo, numa Zona de Comércio Livre os direitos (e as restrições quantitativas) entre os países serem abolidas, mas cada país mantém as suas pautas próprias em relação aos países não membros. Ou seja, todos aqueles países que não fazem parte do arranjo regional ficam impossibilitados de beneficiar dessa redução ou eliminação de direitos. E isto constitui fecho.

Pois bem, como podemos enquadrar o SWED no processo de integração regional? Se partirmos da assunção de Oneani, quando afirma que o dinheiro que entra numa comunidade e só circula entre os seus membros permite-lhes prosperar economicamente e garantir a sua auto-suficiência, constatamos que a curto prazo esta ideia parece estar em sintonia com os propósitos de um arranjo regional mas, se prestarmos atenção, vemos que a médio e longo prazos torna-se impraticável no tocante à liberalização do comércio global. Por outro lado, nenhuma comunidade politicamente organizada é auto-suficiente em todas as esferas e na sua total acepção do termo. Se existisse alguma nessas condições teríamos aí um indiscutível argumento contra a globalização económica.

Teorias como das vantagens comparativas, de Ricardo, dotação de factores, de Hecksher-Ohlin e outros clássicos não fariam sentido. É irrelevante dizer ao Sr. Oneani que existe um inesgotável acervo bibliográfico que se dedica a explicar a necessidade que os países têm de comercializar entre si. Por aqui podemos ver que a teoria do SWED é contrária à globalização económica, apresentando-se com um carácter localista e sua aplicação desenquadrada à actual economia política internacional. A teoria do SWED foi concebida tendo como base, para a formulação das suas premissas, os hábitos económicos dos indianos imigrantes nos EUA. Oneani exorta aos afro-americanos e ao continente africano a adoptarem esta estratégia para serem bem sucedidos no mundo dos negócios. E para densificar a sua receita fala da Índia, como um dos vários exemplos do continente asiático, cujo sucesso assenta no SWED.

Entretanto, o autor escamoteia muitos factores. O primeiro tem a ver com o facto de o SWED só ser praticável a curto prazo e por um pequeno grupo de indivíduos fora do seu país, região ou comunidade. Numa situação de imigrantes ou deslocados, os indivíduos tendem a desenvolver um grande sentido de solidariedade mútua, ajudando-se no que for preciso para poderem sobreviver. O segundo factor prende-se com o seu argumento sobre o desenvolvimento em África e a sua fraca capacidade tecnológica. Embora este ponto fuja ligeiramente do âmbito desta discussão, importa ressalvar que o autor anda desatento ao debate, que está a acontecer em quase todo o mundo, em torno desta questão. Hungtington, numa co-publicação com Lawrence Harrison, intitulada Culture Matters, cometeu o mesmo erro de análise quando comparou as economias do Ghana e da Coreia do Sul, explicando de forma simplista que aquele primeiro país ficara atrasado devido a questões ligadas à cultura.

Felizmente, esta comparação despropositada, feita sem ter em conta questões relacionadas com estruturas de classe, prioridades políticas e alfabetização, foi inteligentemente corrigida pelo Nobel de economia, o Professor Amatya Sen, no seu livro Identidade e Conflito: a ilusão do destino (2007: 147-148).

Uma das vantagens que a Ásia leva em relação à África está relacionada com a aposta que aquela muito cedo fez na educação. Os asiáticos preocupam-se com a educação há Séculos e África não tem 100 anos de independência, excluindo o período colonial em que a educação tinha em vista garantir a manutenção do poder da metrópole.
3
O problema do subdesenvolvimento em África é complexo, com interconexões de carácter conjuntural. Um comportamento do tipo SWED num continente que só consome e nada produz (palavras do teórico Oneani) significaria matar as pessoas a fome a médio e longo prazos. Chika Oneani perdeu a oportunidade de trazer uma discussão de capital importância nos dias de hoje. O SWED pode funcionar como um excelente argumento para rebater a crescente influência da tese do homo económicus que desde Adam Smith – seu precursor – aos tempos contemporâneos vem sendo desvirtuada a tal ponto que se tornou absolutamente inaceitável.

De que forma se faria esse combate ao homem económico? Se o SWED apela para a interacção comunitária, o homem económico vai justamente no sentido oposto, valorizando o egoísmo individual como o motor do crescimento económico e desenvolvimento. Só esta pequena contribuição para a ciência já tornaria o autor de Capitalist Neeger útil tanto para os seus compatriotas nos EUA quanto para o mundo em geral. Mas como ele próprio confessa, a sua preocupação prende-se com a acumulação de riqueza, incentivando os afro-americanos a adoptarem o capitalist neegerism - uma outra invencionice da sua cabeça. Suspeito que mesmo a publicação do seu livro constitua uma estratégia para ganhar dinheiro fácil, ludibriando os intelectualmente distraídos.

Janeiro, 2009 BIBLIOGRAFIA SEN, Amartya (2007), Identidade e Conflito: a ilusão do destino, Tinta da China edições, Lisboa

1 comentário:

  1. O LIVRO QUE NAO LI (CAPITALIST NEEGER, CHIKA ONEANI)

    Andes Chivangue, traz-me uma abordagem nova, de discussao de uma abordagem teorica em como os Afro-Americanos podem gerar riqueza, que pode tambem ser transportada para Africa.

    Como disse no titulo, nao li a obra, mas achei brilhante os contra argumentos que Chivangue apresenta para a obra, e e apartir desses contra argumentos que apresento o meu posicionamento.

    Segundo o texto de Chivangue, o arguemnto central de Oneani "prende-se com acumulacao de riqueza...." por via disso discordo com argumento de Civangue segundo o qual " a teoria do Swed e contraria a globalizacao econ'omica, apresentando-se com caracter localista e sua aplicacao desenquadrada a actual economia politica internacional".

    Discordo com este argumento, porque Chivangue nao toma em consideracao que o proprio processo de integracao regional e tambem localista mas mesmo assim constitui uma etapa para se atingir a globalizacao. De tal modo que considero a "estrategia da teia de aranha" como um mecanismo de acumulacao de riqueza, isto e, circulacao flexivel da riqueza, uma epecie de um XITIQUE avancado, que pode ter o grande condao de emponderar um grupo economico, e nao de limitar o seu expansionismo para outras cadeias de investimento que possam ser detidas por outros grupos identitarios.

    Oneani, apresenta uma abordagem de concentracao e circulacao de capitais, nao nega o crescimento de novas parcerias e empreendimentos economicos, mas sim actualiza que este crescimento for feito com base numa especie de intra-ajuda grupal, o memso pode rapidamente desenvolver-se.

    Quando Chivangue, nos diz que " um comportamento do tipo SWED num continente que so consome e nada produz significaria matar pessoas a fome a medio e longo prazos baseado no argumento segundo o qual nehuma comunidade politicamente organizada e auto-suficiente em todas as esferas e na sua acepcao total do termo, porque a seu ver se assim fosse teriamos ai um argumento contra a globalizacao economica, nao so margiliza o papel de Africa para o crescimento e desenvolvimento das nacoes Ocidentais, mas ao mesmo tempo ignora por completo a capacidade que Africa tem nao so em deslocalizar as grandes redes industrias de transformacao das materias primas que muito abudam em Africa e poder tornar-se mais proactiva no fluxo de capitais na ordem mundial, mas sobretudo com este argumento Chivangue da um tiro no seu proprio pe, se olharmos para a questao da comunidade Indiana, aqui apresentada.

    Quero terminar respondendo uma questao levantada por Chivangue, segundo a qual " Como podemos enquadrar o swed no processo de integracao regional" mas antes nao podia deixar de dizer que A.Chivangue nao so me orgulha bastante por ser meu colega e me permitir postar este texto, mas por ser um homem com grande teor critico de abordagem, para alem de ser um eximio escritor.

    Ora, se o processo de integracao regional, isto e, o agrupamento entre Estados de uma regiao, e visto como uma estapa para integracao continental e posteriormente a globalizacao, penso que o SWED pode ser lido como uma etapa micro para se atingir a integrcao regional, tendo como base inicial, um agrupamento entre grupos no seio de uma comunidade especifica no seio da regiao.

    Obrigado e quero ver outras posicoes sobretudo a sua Chivangue

    ResponderEliminar