sábado, 6 de junho de 2015

Isabel dos Santos- Um caso para reflexão sobre os PVDs

Por: Nelson Charifo A empresária Isabel dos Santos vem-se debatendo contra um conjunto de preconceitos que, de alguma forma, obscurecem o verdadeiro significado dos seus sucessos empresariais. Ser mulher e ser africana são dois pontos que jogam contra o estatuto da empresária mais rica de África. Isabel dos Santos tem contra si, em primeiro lugar, o facto de ser mulher. Pesem todas as transformações a nível global, a mulher ainda não é totalmente vista como um “parceiro” de pleno direito em termos de realizações na esfera pública, seja ao nível político, empresarial ou mesmo científico. Para mais, a esposa de Sindika Dokolo é mãe de 3 filhos, e muitos não acreditam que, com o ritmo frenético da vida moderna, seja possível conciliar o papel de mãe, esposa e empresária de sucesso. E o facto de provir de África não ajuda, pelo contrário. O continente africano não é ainda o mais avançado ou desenvolvido neste aspecto, tendo ainda um longo caminho para percorrer até que seja alcançada uma posição paritária que reflicta o verdadeiro papel da mulher africana na sociedade. A percentagem de mulheres em cargos de importância é ainda reduzida, se bem que Angola já venha a dar o exemplo, como acontece ao atribuir a Bernarda da Silva a importante e estratégica função de ministra da Indústria. Neste sentido, Dos Santos é a primeira mulher da lista dos mais ricos de África, o que leva a que seja vista com alguma desconfiança. Depois, o facto de ser africana. Se numa lista de milionários africanos ela é a única mulher, nos rankings internacionais dos maiores milionários ela encontra-se entre os ainda poucos que vêm de África. Em muitos circuitos de opinião internacionais, o empreendedorismo africano ainda é visto não como o concretizar do potencial humano e natural do continente, mas como um resquício do colonialismo ou do neocolonialismo – o aproveitar de estruturas macroeconómicas herdadas do período colonial. Todavia, para todos os efeitos, hoje o continente está verdadeiramente entregue a si próprio, e se os discursos pós-coloniais lamentando a “pesada herança” já deixaram de ter eco, também é verdade que a África de hoje nada tem a ver com a do século XX. Os maiores milionários do continente surgem, à imagem dos de outras regiões do globo (América Latina, Ásia, Médio Oriente, etc.), do desenvolvimento das oportunidades económicas abertas pela globalização – o que se reflectiu também no declínio relativo da Europa Ocidental e dos Estados Unidos no plano global.

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